Maio/2021
A Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) promove, na próxima terça-feira, 18 de maio, às 14h, a mesa-redonda online 25 anos sem Oracy Nogueira: o racismo à brasileira em questão, em homenagem ao sociólogo falecido em 1996. Com transmissão ao vivo pela página da COC no Facebook, o evento é parte do curso Raça, Ciência e Sociedade no Brasil, ministrado pelo professor Marcos Chor Maio, do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da COC.
A mesa-redonda contará com a participação dos professores Maria Laura Cavalcanti, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Antonio Sérgio Guimarães, do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade de São Paulo, e abordará a vida e a obra de Oracy Nogueira (1917-1996), que pertenceu a uma notável geração egressa de instituições de ciências sociais que despontavam nos anos 1940 e 1950. Esse grupo, do qual também fizeram parte Guerreiro Ramos, Florestan Fernandes, Antonio Candido, Costa Pinto, entre outros, contribuiu para o desenvolvimento de novas interpretações sobre o Brasil.
Entre os principais estudos de Oracy Nogueira, destacam-se Vozes de Campos de Jordão: Experiências sociais e psíquicas do Tuberculoso Pulmonar no Estado de São Paulo (Editora Fiocruz, 2009, 2ª edição) e Preconceito de Marca: as relações raciais em Itapetininga (Edusp, 1998).
O primeiro livro, resultado de uma pesquisa de mestrado realizada entre 1943 e 1945 na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, anteciparia o consagrado estudo de Erving Goffman sobre o estigma. O segundo estudo, uma refinada análise do racismo à brasileira, versa sobre Itapetininga, município do interior paulista, e foi realizado sob o patrocinio da Unesco no início dos anos 1950. Ele é a fonte que inspirou Oracy Nogueira na elaboração de uma tipologia, em perspectiva comparada Brasil-EUA, em seu artigo clássico intitulado: Preconceito Racial de Marca e Preconceito Racial de Origem.
Trajetória
Oracy Nogueira nasceu em 17 de novembro de 1917 em Cunha, São Paulo. Aos 14 anos participou como voluntário da Revolução Constitucionalista de 1932. Um ano depois iniciou sua vida profissional como repórter e redator do Correio de Botucatu, e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro, ao qual permaneceu vinculado até a década de 1960.
Em 1940, Oracy ingressou na Escola Livre de Sociologia e Política (ELSP) de São Paulo, onde tornou-se estudante-bolsista de Donald Pierson e foi aluno de Radcliffe-Brown, Herbert Baldus, Sérgio Milliet, Emílio Willems, entre outros. Concluido o bacharelado, realizou o mestrado na mesma instituição. Sua dissertação foi publicada em 1950 com o título Vozes de Campos do Jordão: experiências sociais e psíquicas do tuberculoso pulmonar no estado de São Paulo.
Em 1945, o sociólogo obteve uma bolsa do Institute of International Education e seguiu para os Estados Unidos para o doutoramento na Universidade de Chicago. Lá permaneceu até 1947 sob a orientação de Everett Hughes. Retornou ao Brasil para trabalhar na tese que não chegou a ser defendida: em 1952, em pleno macartismo, seu visto para retorno aos Estados Unidos foi negado.
No intervalo entre os anos 1940 e 1950 integrou a direção da Revista Sociologia. Nesse período realizou extensa investigação sobre relações raciais, da qual resultaram “Atitude desfavorável de alguns anunciantes de São Paulo em relação aos empregados de cor” (1942), “Relações raciais no município de Itapetininga” (1955) e “Preconceito racial de marca e preconceito racial de origem: sugestão para a interpretação do material sobre relações raciais no Brasil” (1955).
Em 1952 passou a lecionar na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas (FCEA) da Universidade de São Paulo (USP), onde, em 1968, integrou o quadro de professores de sociologia. Três anos depois, Oracy Nogueira foi efetivado como técnico do Instituto de Administração da USP, do qual se tornou chefe do Setor de Pesquisas Sociais. Ele se aposentou em 1983, mas permaneceu desenvolvendo estudos sobre racismo, como “Tanto preto quanto branco: estudos de relações raciais” (1985) e “Negro político, político negro: a vida do doutor Alfredo Casemiro da Rocha, parlamentar da República Velha” (1992). O sociólogo morreu em 16 de fevereiro de 1996, em sua cidade natal.
A Casa de Oswaldo Cruz tem a guarda do Fundo Oracy Nogueira desde 2013.
Fonte: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz
Leia em HCS-Manguinhos:
Entre Itapetininga e o Brasil: Oracy Nogueira e o estudo étnico-racial de uma comunidade, Carlos Eduardo Calaça (HCS-Manguinhos, v.6, n. 2, jul./out. 1999)
Oracy Nogueira: esboço de uma trajetória intelectual
Maria Laura Viveiros de Castro Cavalcanti (HCS-Manguinhos, v. 2, n. 2, jul/out 1995)
Leia também:
O contraponto paulista: Florestan Fernandes, Oracy Nogueira e o Projeto Unesco de relações raciais, artigo de Marcos Chor Maio publicado na revista Antíteses, Universidade Estadual de Londrina (v. 7, n. 13, jan./jun. 2014)
O racismo no microscópio: Oracy Nogueira e o projeto Unesco, artigo de Marcos Chor Maio publicado na revista Estudios Interdisciplinarios de América Latina y el Caribe (vol 19, n. 1, jan. 2008)
E no site da COC/Fiocruz: