Julho/2020
Nas décadas de 1950 a 1970, houve uma série de transformações nos modos de pensar a infância no Brasil: o filho das classes médias educadas tornou-se objeto de interesse, observação e investigação numa perspectiva psicológica e psicanalítica por parte de pais, psicólogos, professores e médicos. A criança, que vinha sendo pensada como central para a cidadania e o futuro da nação, começou a ser concebida como núcleo do âmbito privado e símbolo da subjetividade individual, em sintonia com a emergência da sociedade de consumo e com a modernização social e cultural. Os papéis fixos e imutáveis, de autoridade e obediência, de pais e filhos, foram questionados em favor de novos valores morais, considerados “modernos”, como o autoconhecimento, a autonomia e a independência.
O artigo A psicanálise e as transformações na concepção da infância nas crônicas e colunas de Clarice Lispector, 1952-1973, de Alejandra Josiowicz, pesquisadora do Instituto Interdisciplinar de Estudos de Gênero (Iiege-Conicet) e pós-doutoranda no CPDOC-FGV, examina o novo paradigma de compreensão da infância nas colunas e crônicas publicadas em revistas e jornais de ampla circulação por Clarice Lispector.
Lispector foi leitora de psicologia e psicanálise e se interessou pela educação e o psiquismo das crianças a partir de uma perspectiva psicanalítica. Nas suas colunas e crônicas, a mulher é uma verdadeira psicanalista ao interior do lar, capaz de compreender as emoções, os afetos e a personalidade dos filhos, atenta às particularidades da sua vida psíquica. O modelo “moderno” de educação dos filhos que as colunas e crônicas propõem implica a intensificação do laço materno-filial e o cultivo da intimidade afetiva e psíquica entre pais e filhos. Já não se trata de civilizar as crianças, adaptando-as aos parâmetros do mundo adulto: são os pais os que devem adaptar-se ao modo de perceber e experimentar dos próprios filhos.
Leia em HCS-Manguinhos:
A psicanálise e as transformações na concepção da infância nas crônicas e colunas de Clarice Lispector, 1952-1973, artigo de Alejandra Josiowicz (v. 27, n.1, jan./mar. 2020)