Reflexões insones em noites pandêmicas

Maio/2020

Fernando A. Pires-Alves * | Blog do Observatório História e Saúde 

Fernando A. Pires-Alves

Uma epidemia, por óbvio, é um fenômeno coletivo, da ordem das populações. Uma pandemia diz respeito aos povos e nações e, eventualmente, ela é global. Será global não só quando espraia-se rapidamente pelos quatro cantos da terra, mas, sobretudo, quando somos inundados de forma estonteante com informações acerca dos mais variados contextos regionais e nacionais; nos inteiramos com alguma facilidade dos informes e diretrizes de instituições como a Organização Mundial da Saúde; e experimentamos a repercussão de tudo isso, atravessados que somos pelas diversas mídias de massa e pelas chamadas redes sociais. O corrente noticiário sobre a Covid-19 e a polifonia de postagens as mais diversas são sobretudo isso: um registro da experiência coletiva global da pandemia. E, neste sentido, a Covid-19 é a primeira pandemia global da história, efetivamente merecedora deste qualificativo.

No Brasil, ela é também a primeira epidemia de fato nacional. Ela atingiu velozmente todos os estados e logo alcançará a totalidade dos municípios, seus bairros e logradouros. Ela, como nenhuma outra, atinge todos os segmentos sociais, sem escapar é claro do peso das desigualdades na sua dispersão, na gravidade dos casos e no número de óbitos entre os mais pobres e vulneráveis. Nem mesmo a Aids alcançou essa envergadura. A Covid-19 adoece a sociedade por inteiro e desnuda as nossas pavorosas comorbidades sociais. É nessa dimensão intrincada entre o nacional e o local, atravessada pelas nossas desigualdades, que se estabelece a mediação política da pandemia. Leia o artigo completo no Blog do Observatório História e Saúde da (COC/Fiocruz).

*Fernando A. Pires-Alves é pesquisador associado do Observatório História e Saúde (COC/Fiocruz)

Deste autor, leia na revista HCS-Manguinhos:

Santos, Luiz Antonio de Castro et al. Lutas pela história da saúde: perspectivas sobre as ciências sociais em saúde a partir da trajetória intelectual de Luiz Antonio de Castro Santos. Set 2019, vol.26, no.3

Pires-Alves, Fernando A. and Maio, Marcos Chor Health at the dawn of development: the thought of Abraham Horwitz. Mar 2015, vol.22, no.1

Mello, Maria Teresa Villela Bandeira de and Pires-Alves, Fernando A. Expedições científicas, fotografia e intenção documentária: as viagens do Instituto Oswaldo Cruz (1911-1913). Jul 2009, vol.16, supl.1

Leia no especial HISTÓRIA E CORONAVÍRUS no Blog de HCS-Manguinhos:

Covid-19 e quarentena em Santa Catarina: um triste experimento populacional

Professora do Departamento de Sociologia e Ciência Politica da Universidade Federal de Santa Catarina, Sandra Caponi conta que as medidas de isolamento social adotadas rapidamente pelo governo estadual e a prefeitura de Florianópolis, inicialmente muito bem sucedidas e que contaram com o compromisso da população, sofreram interferências do presidente Bolsonaro e de empresários locais alinhados com ele, com terríveis consequências.

A ciência subordinada: coronavírus e a política científica no Brasil

O historiador Rogério Rosa Rodrigues explica por que a pesquisa básica, as humanidades e as ciências sociais merecem ser consideradas áreas prioritárias

Pandemia, ciência e sociedade: a Covid-19 no Paraná

Embora o estado seja, entre os do sul do Brasil, o que apresenta maior notificação de casos e mortes, autoridades vêm liberando atividades comerciais e o isolamento social. Com o pico da pandemia previsto para coincidir com a chegada do inverno, a sociedade paranaense precisará de toda estrutura do sistema público de saúde e apoio das universidades públicas, afirma o historiador Vanderlei Sebastião de Souza, da Unicentro Paraná, no especial ‘História e coronavírus’ no Blog de HCS-Manguinhos

Bodes expiatórios contra o mal-estar social que as doenças causam

André Mota

“Os empestados são os de fora”, afirma o historiador André Mota (FMUSP), com base em estudos sobre a esquistossomose na cidade de São Paulo de 1930 a 1970. Leia artigo do pesquisador especialmente para o Blog de HCS-Manguinhos

‘Entre a solidariedade e o egoísmo, patrões escolhem defender seus próprios interesses’

Pesquisador da história social do trabalho, o historiador Antonio Luigi Negro – o Gino -, professor da Universidade Federal da Bahia, deu entrevista ao Blog de HCS-Manguinhos e ao programa Labuta, do Laboratório de Estudos da História dos Mundos do Trabalho da UFRJ

Pandemia: particularidades de cada lugar

Historiadores estrangeiros analisam o avanço do Covid-19 em seus países no Blog de HCS-Manguinhos internacional
 
 
Leia mais no Blog de HCS-Manguinhos:
 
A pandemia que já matou milhares de pessoas no mundo traz à tona a história das grandes epidemias. Veja uma lista atualizada constantemente do que o Blog e a revista HCS-Manguinhos já publicaram sobre o tema.
 
A Fiocruz diante da Covid-19
A revista Ciência Hoje entrevistou Nisia Trindade Lima, primeira mulher presidente da Fiocruz nos 120 anos da instituição, completados em maio.
 
Leituras sobre epidemias em acesso aberto no Hispanic American Historical Review
O editor científico de HCS-Manguinhos, Marcos Cueto, recomenda uma série de artigos publicados no periódico internacional
 
Cueto: ‘Este é um momento chave para se definir como ficarão as relações entre a ciência e a política’
Editor da revista História, Ciências, Saúde Manguinhos e professor da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Marcos Cueto foi o entrevistado da primeira edição do programa Onda Histórica, da FlacsoRadio, cujo tema foi a pandemia de Covid-19 no contexto do capitalismo, do neoliberalismo e da globalização.
 
O Covid-19 e as epidemias da Globalização
“As epidemias regressam para nos recordar da nossa vulnerabilidade ante a enfermidade e o poder”, afirma Marcos Cueto, editor-científico de HCS-Manguinhos, autor de trabalhos sobre epidemias e coautor de livro sobre a OMS
 
Fake news circularam na imprensa na epidemia de 1918
Notícias falsas foram divulgadas até por autoridades, que disseminaram ‘receitas peculiares’ contra a gripe espanhola.
 
Pandemia reanima debates sobre a importância do SUS
Uma das questões problemáticas é a falta de coordenação e sintonia entre o sistema de formação de recursos humanos no país e as necessidades epidemiológicas e de atenção à população

 

Leia no Especial Covid-19: o olhar dos historiadores da Fiocruz, da COC:

Casa de Oswaldo Cruz lança especial ‘Covid-19 – o olhar dos historiadores das Fiocruz’
De acordo com Dominichi Miranda de Sá, chefe do Departamento de Pesquisa em História das Ciências e da Saúde, a série trará reflexões sobre temáticas que dialogam e tornam mais transparentes dilemas e processos relacionados à pandemia em curso.

Ciência, saúde e doenças emergentes: uma história sem fim
A Casa de Oswaldo Cruz lançou um especial com o olhar dos historiadores da Fiocruz sobre a Covid-19. A estreia foi com artigo de Luiz Teixeira e Luiz Alves.

O laboratório e a urgência de mover o mundo
O que a história e as ciências sociais têm a nos dizer sobre os atores, as práticas e os lugares que produzem a ciência? Simone Kropf responde, em artigo para o especial da Casa de Oswaldo Cruz sobre a Covid-19.

Oswaldo Cruz no combate às epidemias
Para o especial sobre Covid-19 da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Gisele Sanglard e Renato da Gama-Rosa Costa lembram que Oswaldo Cruz combatia, com poder de polícia, três epidemias ao mesmo tempo – peste bubônica, febre amarela e varíola.

Covid-19: historiador discute produção de consensos na ciência
Como se constroem os consensos na ciência? Por que os cientistas e as instituições de pesquisa reveem suas posições? Qual o papel dos dados nesses processos e na tomada de decisões? O historiador Robert Wegner, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz, discute esta e outras questões relacionadas à pandemia neste vídeo da série especial ‘Covid-19: o olhar dos historiadores da Fiocruz’.

 

Leia sobre outras epidemias no Blog de HCS-Manguinhos:

Há cem anos, gripe espanhola matou mais de 50 milhões
Doença dizimou cerca de 5% da população mundial em 1918. Leia reportagem na Folha de São Paulo e artigos em HCS-Manguinhos

Epidemias e colapso demográfico no México e Peru do século XVI
Ricardo Waizbort e Filipe Porto fazem leitura crítica da literatura histórica e discutem a importância de doenças como varíola e sarampo

Pesquisadores investigam de epidemia de varíola em Porto Alegre no século XIX
Fábio Kühn e Jaqueline Hasan Brizola buscaram conhecer o universo da morbidade e estabelecer o impacto social da doença na cidade entre 1846 e 1874

Epidemia de zika remete à rubéola e à discussão sobre aborto como ato médico
Ilana Löwy, pesquisadora do Instituto Nacional de Saúde e de Pesquisa Médica de Paris, conta como os surtos de rubéola estimularam a descriminalização do aborto na Europa

USP lança As enfermidades e suas metáforas: epidemias, vacinação e produção de conhecimento
Livro reúne artigos de autores renomados na área de história da saúde

Medo e desinformação marcaram epidemia de cólera em Veracruz, no México
Beau Gaitors e Chris Willoughby, da Universidade Tulane (EUA), participaram do workshop sobre doenças tropicais na Fiocruz

Grandes epidemias são tema de exposição em São Paulo
Mostra no Museu de Saúde Pública Emílio Ribas aborda adoecimento, prevenção, tratamento e cura e discute pesquisa, políticas públicas, campanhas e impactos sociais das doenças

Conservadorismo é um desafio na luta contra a Aids
“Como prevenir uma infecção sexualmente transmissível sem falar de sexo e sexualidade?”, questiona Eliza Vianna, pesquisadora da história da Aids. Ela deu entrevista ao Blog de HCS-Manguinhos por ocasião do Dia Mundial de Luta Contra a Aids e do lançamento da nova campanha do Ministério da Saúde.

Artigo aborda chegada de mosquito vetor da malária ao Brasil em 1930
Gabriel Lopes, pós-doutorando do PPGHCS/COC, analisa as primeiras reações de cientistas e autoridades de saúde pública contra as epidemias de malária causadas pelo Anopheles gambiae

La fiebre amarilla y la medicina china en Perú. Artículo de Patricia Palma explora el crecimiento de diversos saberes médicos durante y tras la epidemia de fiebre amarilla en Lima, Perú.

La cólera, la desinformación y el comercio en Veracruz. Beau Gaitors y Chris Willoughby exploran el problema comercial y sanitario enfrentado por el puerto mexicano en el siglo 19.

 

Leia artigos sobre epidemias na revista HCS-Manguinhos:

Entre vacinas, doenças e resistências: os impactos de uma epidemia de varíola em Porto Alegre no século XIX, artigo de Fábio Kühn e Jaqueline Hasan Brizola (vol.26, no.2, abr 2019)

Zika e Aedes aegypti: antigos e novos desafios, artigo de Flávia Thedim Costa Bueno et al (v. 24, no.4, out 2017)

Cidade-laboratório: Campinas e a febre amarela na aurora republicana, artigo de Valter Martins (vol.22, n.2, jan./abr. 2015)

As epidemias nas notícias em Portugal: cólera, peste, tifo, gripe e varíola, 1854-1918. Artigo de Maria Antónia Pires de Almeida, Jun 2014, vol.21, no.2

Não é meu intuito estabelecer polêmica”: a chegada da peste ao Brasil, análise de uma controvérsia, 1899 Artigo de Dilene Raimundo do Nascimento e Matheus Alves Duarte da Silva, Nov 2013, vol.20, suppl.1

Bactéria ou parasita? a controvérsia sobre a etiologia da doença do sono e a participação portuguesa, 1898-1904. Artigo de Isabel Amaral. Dez 2012, vol.19, no.4

‘Formidável contágio’: epidemias, trabalho e recrutamento na Amazônia colonial (1660-1750), artigo de Rafael Chambouleyron, Benedito Costa Barbosa, Fernanda Aires Bombardi e Claudia Rocha de Sousa (vol.18, no.4, dez 2011)

A epidemia de cólera de 1853-1856 na imprensa portuguesa, artigo de Maria Antónia Pires de Almeida (v. 18, no.4, dez 2011) 

A gripe de longe e de perto: comparações entre as pandemias de 1918 e 2009, artigo de Adriana Alvarez et al. (vol.16, no.4, dez 2009)

Antiescravismo e epidemia: “O tráfico dos negros considerado como a causa da febre amarela”, de Mathieu François Maxime Audouard, e o Rio de Janeiro em 1850. Kaori Kodama (vol.16, no.2, Jun 2009)

A epidemia de gripe espanhola: um desafio à medicina baiana, artigo de Christiane Maria Cruz de Souza (vol.15, no.4, dez 2008)

O Carnaval, a peste e a ‘espanhola’. Artigo de Ricardo Augusto dos Santos (v.13, n.1, jan./mar. 2006)

A gripe espanhola em Salvador, 1918: cidade de becos e cortiços. Artigo de Christiane Maria Cruz de Souza (vol.12, no.1, abril 2005)

Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro, artigo de Adriana da Costa Goulart (v. 12, no.1, abr 2005) 

A cidade e a morte: a febre amarela e seu impacto sobre os costumes fúnebres no Rio de Janeiro (1849-50) – Cláudia Rodrigues (vol.6, no.1, Jun 1999)

 

E ainda, na revista HCS-Manguinhos, artigos em inglês e espanhol:

La “cultura de la sobrevivencia” y la salud pública internacional en América Latina: la Guerra Fría y la erradicación de enfermedades a mediados del siglo XX, artigo de Marcos Cueto (vol.22, no.1, mar 2015)

Curing by doing: la poliomielitis y el surgimiento de la terapia ocupacional en Argentina, 1956-1959., artigo de Daniela Edelvis Testa (vol.20, no.4, dez 2013)

Las epidemias de cólera en Córdoba a través del periodismo: la oferta de productos preservativos y curativos durante la epidemia de 1867-1868., artigo de Adrián Carbonetti e María Laura Rodríguez (vol.14, no.2, jun 2007) 

El rastro del SIDA en el Perú, artigo de Marcos Cueto (vol.9, 2002)

Lo público y lo privado en tiempos de peste., artigo de Sandra Caponi, (vol.6, no.1 , jun 1999)