Abril/2020
Dezenas de instituições de saúde, ciência, educação e áreas relacionadas de diversos países, incluindo, no Brasil, a Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), entre outras, enviaram ao Secretário-Geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, com cópia ao Diretor-Geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, uma carta aberta às Nações Unidas intitulada “Desigualdade em saúde durante a pandemia: um grito por uma liderança global ética” (Health Inequity during the Pandemic: A Cry for Ethical Global Leadership).
Entregue em 21 de abril, a carta aberta defende que uma força-tarefa multissetorial para a equidade global em saúde seja criada pela OMS para coordenar a cooperação internacional de maneira a fornecer “o melhor nível possível de saúde para todos os povos”. Esta força-tarefa seria um grupo multissetorial organizado para enfrentar o impacto da pandemia em suas dimensões plenas de saúde, sociodemográficas e econômicas, desenvolvendo normas internacionais necessárias para apoiar a produção regional de medicamentos genéricos, suprimentos e equipamentos de qualidade. “A magnitude do impacto dessa pandemia requer intervenções corajosas para proteger os mais necessitados”, diz a carta.
“Estamos profundamente preocupados com o crescente impacto da pandemia de Covid-19 entre populações já vulneráveis e marginalizadas em todo o mundo. Populações desfavorecidas e marginalizadas correm maior risco de serem infectadas. Elas têm risco de exposição elevado devido à superlotação em residências e bairros, menor acesso ao saneamento básico, são mais propensas a usar o transporte público e têm empregos que não permitem que trabalhem em casa. Adicionalmente, em muitas partes do mundo, os desafios cotidianos de uma vida precária podem superar a percepção dos riscos apresentados pela pandemia de coronavírus, tornando as pessoas menos propensas a adotarem medidas preventivas, muitas das quais – como distanciamento social e higienização frequente das mãos – são luxos que simplesmente não estão ao alcance”, destaca o texto.
A carta ressalta ainda que, quando infectadas, as pessoas marginalizadas têm maior probabilidade de evolução para casos graves, uma vez que sofrem de doenças crônicas, obesidade e desnutrição em taxas desproporcionalmente mais altas, e mais dificuldade de acesso a testes e tratamentos, incluindo hospitalização e terapia intensiva.
“Para os cidadãos mais vulneráveis do mundo, todos esses fatores aumentam a probabilidade de morte. Apesar dos avisos ameaçadores, a maioria dos sistemas de saúde não está preparada para lidar com uma pandemia dessa magnitude, uma situação exacerbada por um modelo de saúde que visa o lucro e que a trata como uma mercadoria, e não como um direito humano básico”, enfatiza a carta.
A força-tarefa, sediada na OMS, seria encarregada de tomar as medidas necessárias para o exercício da liderança global necessária para uma resposta à pandemia, de forma abrangente e focada na equidade, e guiada pelos princípios éticos de justiça, beneficência e pela Declaração Universal de Direitos Humanos. Também incentivaria a cooperação internacional para a alocação justa de recursos a todos os países, conforme a necessidade, desenvolveria normas internacionais necessárias para apoiar a produção regional de medicamentos genéricos, suprimentos e equipamentos de qualidade afinadas com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3 (ODS 3) da Agenda 2030 (assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades). Segundo o texto, essas normas deveriam abolir as patentes de quaisquer suprimentos, equipamentos, medicamentos e vacinas relacionados à pandemia.
A força-tarefa apoiaria a quantificação e previsão de necessidades, adotando medidas para salvaguardar uma cadeia de suprimento global equitativa e viável, com o apoio logístico necessário, e se concentraria no desenvolvimento de recomendações aprimoradas sobre preparação e resposta, para aumentar as modalidades de capacitação para atender às necessidades das populações mais vulneráveis e em maior risco em todo o mundo, incluindo comunidades que vivem na pobreza; aqueles com alta prevalência de comorbidades; minorias raciais, étnicas e religiosas; e pessoas que vivem em abrigos, centros de detenção, campos de imigração e zonas de conflito. Ela também deveria aconselhar países e regiões sobre estratégias coordenadas, justas e equitativas de flexibilização de confinamento, estabelecendo as bases e promovendo medidas para fortalecer os sistemas universais de saúde em todo o mundo e minimizar as disparidades econômicas e sociais que levam à ampliação da desigualdade como efeito da Covid-19.
A carta é uma iniciatica do Movimento Global pela Equidade em Saúde Sustentável, que enviou junto com o texto a lista de endossos de instituições e pessoas físicas de destaque nas áreas relacionadas. As instituições acreditam que a OMS esteja perfeitamente posicionada para catalisar o conhecimento e os recursos globais para mitigar o impacto da pandemia.
Entre os assinantes destacam-se Oscar Arias Sanchez, ex-presidente da Costa Rica (1986-1990, 2006-2010), agraciado com o prêmio Nobel da Paz (1987); Ricardo Lagos, ex-presidente do Chile (2000-2006); Luiz Inácio Lula da Silva, ex-presidente do Brasil (2003-2011); José “Pepe” Mujica, ex-presidente do Uruguai (2015-2018); e Jose Gomez Temporão, ex-ministro da Saúde do Brasil (2007-2010) Também se destacam membros da Fiocruz, como Paulo Buss, Marcos Cueto, Paulo Gadelha, Fatima Pivetta, Sebastian Tovar, Sonia Fleury e Carlos M. Morel.
Em anexo, encontra-se a carta com a lista das sessenta e oito entidades globais que representam mais de 1,5 milhão de profissionais de saúde pública e advogados que co-assinaram a carta. Há ainda a lista de pessoas que aderiram, e que continua ganhando adesões pelo site https://www.sustainablehealthequity.org/
“O mais notável da nossa proposta coletiva é o fato de ela ter reunido uma extraordinária variedade de defensores do direito à saúde de mais de 45 países e um amplo espectro de culturas, contextos e ideologias. Guiados pelo princípio ético da eqüidade, estamos conduzindo ações transformadoras através de nosso constituinte diversificado e especializado, incluindo cidadãos preocupados, profissionais de saúde de primeira linha, profissionais de saúde pública, principais cientistas e acadêmicos, clínicos, enfermeiras, técnicos de laboratório, parteiras, cientistas sociais, desenvolvimento trabalhadores, defensores dos direitos, organizações da sociedade civil, ex-ministros e ex-chefes de Estado. E nossos números estão crescendo a cada dia!”, afirmam os organizadores.
Enquanto aguardam a resposta do Secretário-Geral, eles esperam que o site seja um fórum para discussão, defesa e ação em prol da equidade em saúde sustentável, a fim de construir e expandir nosso movimento de base.
A equipe de redação e coordenação de cartas é composta por David Chiriboga, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de Massachusetts, EUA, e ex-ministro da Saúde do Equador (2010-2012); Paulo Buss, professor emérito da Fundação Oswaldo Cruz e membro titular da Academia Nacional de Medicina; Juan Garay, professor de Saúde Global da Escola Nacional de Saúde da Espanha; Sebastián Tobar, secretário-executivo da Alasag, Argentina; e Luiz Augusto Galvão, do Centro Fiocruz de Saúde Global, do Brasil.
Baixe a carta aberta à ONU em inglês ou em português:
Health Inequity during the Pandemic: A Cry for Ethical Global Leadership
Iniquidade em Saúde durante a Pandemia: um Grito por Liderança Ética Global
Participe:
https://www.sustainablehealthequity.org/
Leia no Blog de HCS-Manguinhos:
HCS-Manguinhos lança no Blog especial sobre história e Covid19
Na estreia, André Mota aborda a busca por bodes expiatórios, traçando um paralelo com a esquistossomose em São Paulo de 1930 a 1970
Bodes expiatórios contra o mal-estar social que as doenças causam
“Os empestados são os de fora”, afirma o historiador André Mota (FMUSP), com base em estudos sobre a esquistossomose na cidade de São Paulo de 1930 a 1970. Leia artigo do pesquisador especialmente para o Blog de HCS-Manguinhos
Pandemia, ciência e sociedade: a Covid-19 no Paraná
Embora o estado seja, entre os do sul do Brasil, o que apresenta maior notificação de casos e mortes, autoridades vêm liberando atividades comerciais e o isolamento social. Com o pico da pandemia previsto para coincidir com a chegada do inverno, a sociedade paranaense precisará de toda estrutura do sistema público de saúde e apoio das universidades públicas, afirma o historiador Vanderlei Sebastião de Souza, da Unicentro Paraná, no especial ‘História e coronavírus’ no Blog de HCS-Manguinhos.
Leituras sobre epidemias em acesso aberto no Hispanic American Historical Review
O editor científico de HCS-Manguinhos, Marcos Cueto, recomenda uma série de artigos publicados no periódico internacional
‘Entre a solidariedade e o egoísmo, patrões escolhem defender seus próprios interesses’
Pesquisador da história social do trabalho, o historiador Antonio Luigi Negro – o Gino -, professor da Universidade Federal da Bahia, deu entrevista ao Blog de HCS-Manguinhos e ao programa Labuta, do Laboratório de Estudos da História dos Mundos do Trabalho da UFRJ
Cueto: ‘Este é um momento chave para se definir como ficarão as relações entre a ciência e a política’
Editor da revista História, Ciências, Saúde Manguinhos e professor da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Marcos Cueto foi o entrevistado da primeira edição do programa Onda Histórica, da FlacsoRadio, cujo tema foi a pandemia de Covid-19 no contexto do capitalismo, do neoliberalismo e da globalização.
O Covid-19 e as epidemias da Globalização
“As epidemias regressam para nos recordar da nossa vulnerabilidade ante a enfermidade e o poder”, afirma Marcos Cueto, editor-científico de HCS-Manguinhos, autor de trabalhos sobre epidemias e coautor de livro sobre a OMS
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Notícias falsas foram divulgadas até por autoridades, que disseminaram ‘receitas peculiares’ contra a gripe espanhola.
Pandemia reanima debates sobre a importância do SUS
Uma das questões problemáticas é a falta de coordenação e sintonia entre o sistema de formação de recursos humanos no país e as necessidades epidemiológicas e de atenção à população
Leia no Especial Covid-19: o olhar dos historiadores da Fiocruz, da COC:
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Ciência, saúde e doenças emergentes: uma história sem fim
A Casa de Oswaldo Cruz lançou um especial com o olhar dos historiadores da Fiocruz sobre a Covid-19. A estreia foi com artigo de Luiz Teixeira e Luiz Alves.
O laboratório e a urgência de mover o mundo
O que a história e as ciências sociais têm a nos dizer sobre os atores, as práticas e os lugares que produzem a ciência? Simone Kropf responde, em artigo para o especial da Casa de Oswaldo Cruz sobre a Covid-19.
Oswaldo Cruz no combate às epidemias
Para o especial sobre Covid-19 da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, Gisele Sanglard e Renato da Gama-Rosa Costa lembram que Oswaldo Cruz combatia, com poder de polícia, três epidemias ao mesmo tempo – peste bubônica, febre amarela e varíola.
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Como se constroem os consensos na ciência? Por que os cientistas e as instituições de pesquisa reveem suas posições? Qual o papel dos dados nesses processos e na tomada de decisões? O historiador Robert Wegner, pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz, discute esta e outras questões relacionadas à pandemia neste vídeo da série especial ‘Covid-19: o olhar dos historiadores da Fiocruz’.
Leia sobre outras epidemias no Blog de HCS-Manguinhos:
Há cem anos, gripe espanhola matou mais de 50 milhões
Doença dizimou cerca de 5% da população mundial em 1918. Leia reportagem na Folha de São Paulo e artigos em HCS-Manguinhos
Epidemias e colapso demográfico no México e Peru do século XVI
Ricardo Waizbort e Filipe Porto fazem leitura crítica da literatura histórica e discutem a importância de doenças como varíola e sarampo
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Ilana Löwy, pesquisadora do Instituto Nacional de Saúde e de Pesquisa Médica de Paris, conta como os surtos de rubéola estimularam a descriminalização do aborto na Europa
USP lança As enfermidades e suas metáforas: epidemias, vacinação e produção de conhecimento
Livro reúne artigos de autores renomados na área de história da saúde
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Grandes epidemias são tema de exposição em São Paulo
Mostra no Museu de Saúde Pública Emílio Ribas aborda adoecimento, prevenção, tratamento e cura e discute pesquisa, políticas públicas, campanhas e impactos sociais das doenças
Conservadorismo é um desafio na luta contra a Aids
“Como prevenir uma infecção sexualmente transmissível sem falar de sexo e sexualidade?”, questiona Eliza Vianna, pesquisadora da história da Aids. Ela deu entrevista ao Blog de HCS-Manguinhos por ocasião do Dia Mundial de Luta Contra a Aids e do lançamento da nova campanha do Ministério da Saúde.
Artigo aborda chegada de mosquito vetor da malária ao Brasil em 1930
Gabriel Lopes, pós-doutorando do PPGHCS/COC, analisa as primeiras reações de cientistas e autoridades de saúde pública contra as epidemias de malária causadas pelo Anopheles gambiae
La fiebre amarilla y la medicina china en Perú. Artículo de Patricia Palma explora el crecimiento de diversos saberes médicos durante y tras la epidemia de fiebre amarilla en Lima, Perú.
La cólera, la desinformación y el comercio en Veracruz. Beau Gaitors y Chris Willoughby exploran el problema comercial y sanitario enfrentado por el puerto mexicano en el siglo 19.
Leia artigos sobre epidemias na revista HCS-Manguinhos:
Entre vacinas, doenças e resistências: os impactos de uma epidemia de varíola em Porto Alegre no século XIX, artigo de Fábio Kühn e Jaqueline Hasan Brizola (vol.26, no.2, abr 2019)
Zika e Aedes aegypti: antigos e novos desafios, artigo de Flávia Thedim Costa Bueno et al (v. 24, no.4, out 2017)
Cidade-laboratório: Campinas e a febre amarela na aurora republicana, artigo de Valter Martins (vol.22, n.2, jan./abr. 2015)
As epidemias nas notícias em Portugal: cólera, peste, tifo, gripe e varíola, 1854-1918. Artigo de Maria Antónia Pires de Almeida, Jun 2014, vol.21, no.2
“Não é meu intuito estabelecer polêmica”: a chegada da peste ao Brasil, análise de uma controvérsia, 1899 Artigo de Dilene Raimundo do Nascimento e Matheus Alves Duarte da Silva, Nov 2013, vol.20, suppl.1
Bactéria ou parasita? a controvérsia sobre a etiologia da doença do sono e a participação portuguesa, 1898-1904. Artigo de Isabel Amaral. Dez 2012, vol.19, no.4
‘Formidável contágio’: epidemias, trabalho e recrutamento na Amazônia colonial (1660-1750), artigo de Rafael Chambouleyron, Benedito Costa Barbosa, Fernanda Aires Bombardi e Claudia Rocha de Sousa (vol.18, no.4, dez 2011)
A epidemia de cólera de 1853-1856 na imprensa portuguesa, artigo de Maria Antónia Pires de Almeida (v. 18, no.4, dez 2011)
A gripe de longe e de perto: comparações entre as pandemias de 1918 e 2009, artigo de Adriana Alvarez et al. (vol.16, no.4, dez 2009)
Antiescravismo e epidemia: “O tráfico dos negros considerado como a causa da febre amarela”, de Mathieu François Maxime Audouard, e o Rio de Janeiro em 1850. Kaori Kodama (vol.16, no.2, Jun 2009)
A epidemia de gripe espanhola: um desafio à medicina baiana, artigo de Christiane Maria Cruz de Souza (vol.15, no.4, dez 2008)
O Carnaval, a peste e a ‘espanhola’. Artigo de Ricardo Augusto dos Santos (v.13, n.1, jan./mar. 2006)
A gripe espanhola em Salvador, 1918: cidade de becos e cortiços. Artigo de Christiane Maria Cruz de Souza (vol.12, no.1, abril 2005)
Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro, artigo de Adriana da Costa Goulart (v. 12, no.1, abr 2005)
A cidade e a morte: a febre amarela e seu impacto sobre os costumes fúnebres no Rio de Janeiro (1849-50) – Cláudia Rodrigues (vol.6, no.1, Jun 1999)
E ainda, na revista HCS-Manguinhos, artigos em inglês e espanhol:
La “cultura de la sobrevivencia” y la salud pública internacional en América Latina: la Guerra Fría y la erradicación de enfermedades a mediados del siglo XX, artigo de Marcos Cueto (vol.22, no.1, mar 2015)
Curing by doing: la poliomielitis y el surgimiento de la terapia ocupacional en Argentina, 1956-1959., artigo de Daniela Edelvis Testa (vol.20, no.4, dez 2013)
Las epidemias de cólera en Córdoba a través del periodismo: la oferta de productos preservativos y curativos durante la epidemia de 1867-1868., artigo de Adrián Carbonetti e María Laura Rodríguez (vol.14, no.2, jun 2007)
El rastro del SIDA en el Perú, artigo de Marcos Cueto (vol.9, 2002)
Caponi, Sandra. Lo público y lo privado en tiempos de peste. Jun 1999, vol.6, no.1