Outubro/2019
Em março de 1930 foi registrada pela primeira vez nas Américas a presença do Anopheles gambiae, conhecido como o principal vetor da malária falcípara no continente africano. O mosquito foi encontrado por Raymond C. Shannon, entomólogo da Fundação Rockefeller, que trabalhava para o Serviço Cooperativo de Febre Amarela em Natal, Rio Grande do Norte. Após breve pesquisa sobre as novas rotas de navios e hidroaviões em circulação, Shannon descobriu que essa espécie tinha como provável origem Dacar, a capital do Senegal.
A chegada do mosquito africano provocou a organização emergencial de serviços para mitigar os efeitos causados pela sua proliferação. Porém, após ações emergenciais em Natal, a presença do mosquito em território nacional foi negligenciada a partir de 1932, favorecendo um alastramento silencioso que resultou em uma epidemia de malária sem precedentes nas Américas em 1938.
Em artigo publicado na atual edição de HCS-Manguinhos, Gabriel Lopes, pós-doutorando no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e das Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz (PPGHCS/COC), analisa a chegada e a identificação do mosquito e as primeiras reações de cientistas e autoridades de saúde pública contra as epidemias de malária causadas por essa espécie. Lopes também discute questões científicas e políticas que contribuíram para que o combate ao mosquito fosse colocado em segundo plano nas articulações entre a Divisão Sanitária Internacional da Fundação Rockefeller e autoridades brasileiras até 1937.
No estudo são explorados elementos relacionados tanto à perplexidade de cientistas interessados em entomologia médica a partir de relatórios, diários e artigos científicos dos anos de 1930, quanto o desafio para os poderes públicos em lidar de maneira eficiente contra o mosquito invasor. Lopes aborda documentos quase inexplorados na história da entomologia médica, como os estudos de Alwen M. Evans sobre o A. gambiae no continente africano e os relatórios de Shannon no Brasil.
O trabalho foi desenvolvido durante o doutorado no PPGHCS/COC com período de doutorado sanduíche no Instituto de História da Medicina da Universidade Johns Hopkins, financiado pela Capes, e pesquisa no Rockefeller Archive Center com incentivo da Fundação Rockefeller.
Leia em HCS-Manguinhos:
A chegada do “feroz mosquito africano” Anopheles gambiae no Brasil, artigo de Gabriel Lopes (v. 26, n.3, jul./set. 2019)
Como citar este post:
Artigo aborda chegada de mosquito vetor da malária ao Brasil em 1930, Blog de HCS-Manguinhos. Publicada em 21 de outubro de 2019. Disponível em http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/artigo-aborda-chegada-de-mosquito-vetor-da-malaria-ao-brasil-em-1930