Setembro/2019
Há muitas décadas, quando indagados a desenhar um cientista, crianças e adolescentes colocam no papel símbolos recorrentes: o personagem masculino, o jaleco, o óculos, a barba e os tubos de ensaio. Ainda que este estereótipo permaneça vivo no imaginário social, vemos brotar novas referências nos desenhos animados, como a Luna e a Princesa Jujuba. Uma pesquisa sobre as imagens de cientistas na animação autoral mostra um amplo repertório de referências, símbolos e imagens.
A partir da análise do acervo de duas décadas do Festival Anima Mundi, Gabriela Reznik, doutoranda do Programa de Educação, Gestão e Difusão em Biociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Luisa Massarani, pesquisadora do Instituto Nacional de Comunicação Pública da Ciência e Tecnologia e da Fiocruz, e Ildeu de Castro Moreira, professor do Departamento de Física Teórica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, identificaram 405 filmes sobre ciência e tecnologia nas edições de 1993 a 2013 – que representam em média 5% dos filmes por edição – e selecionaram mais de cem curtas para análise de conteúdo.
No artigo Como a imagem de cientista aparece em curtas de animação?, publicado na atual edição de HCS-Manguinhos (vol.26 no.3 jul./set. 2019), os pesquisadores discutem sobre a imagem de cientista na ficção e as potencialidades estéticas, políticas e didáticas dos curtas, contribuindo para ampliar o entendimento sobre o imaginário social da ciência, no campo da divulgação científica.
A produção brasileira teve destaque, com 91 filmes, sendo as áreas da genética, biotecnologia e astronomia temas recorrentes. O estudo também identificou que debates públicos sobre as questões éticas no uso de transgênicos e sobre organismos geneticamente modificados se refletem na produção de filmes no mesmo período, assim como datas comemorativas de missões espaciais.
Segundo a pesquisa, a imagem mais presente é a do cientista branco e adulto, principalmente em laboratórios secretos, e as mulheres cientistas estão sub-representadas. A presença em locais como palco, mídia e indústrias aponta para uma representação de cientista que reivindica visibilidade perante sociedade. Há ainda narrativas inusitadas e reconfigurações da imagem de cientista. Mario de Andrade, por exemplo, pode ganhar a roupagem de um cientista-pajé e recria Macunaíma, reinventando a cena de Frankenstein. Uma menina que vive com o pai em um lixão torna-se a inventora de uma máquina capaz de transformar lixo em floresta. Um cientista usa de seus experimentos para transformar a si mesmo em uma mulher de cabaré. Há também exemplos de esforços em prol de dar voz às mulheres cientistas e às dificuldades que encontram em se legitimarem como mulheres e cientistas, como em Miss Todd e em Rocket Science.
Leia em HCS-Manguinhos:
Como a imagem de cientista aparece em curtas de animação?, artigo de Gabriela Reznik, Luisa Massarani e Ildeu de Castro Moreira (vol.26 no.3 jul./set. 2019)