Setembro/2019
O Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz) promoverá o minicurso História da higiene mental na América Latina com o professor Luiz Mariano Ruperthuz Honorato, da Universidad Diego Portales (Chile), de 16 a 20 de setembro de 2019. Coordenado pela pesquisadora da COC Cristiana Facchinetti, o curso será de 9:30 às 12h, no Centro de Documentação em História da Saúde – Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz (Av. Brasil – 4.365/ 3o andar – Manguinhos – Rio de Janeiro)
No dia 19 de setembro, às 14h, Luiz Mariano Ruperthuz Honorato apresentará a palestra Uma História Transcultural da Higiene Mental na América Latina no Encontro às Quintas. Doutor em Psicologia (Universidad de Chile) e História (Universidad de Santiago de Chile), o psicanalista debaterá a higiene mental como um movimento transnacional no início do século 20 e o seu uso como instrumento de controle social em países como Chile, Argentina, Peru e Brasil. O evento é aberto aos interessados e sem necessidade de inscrição prévia.
Inscrições no curso:
Secretaria do PPGHCS – COC/Fiocruz
ppghistoriasaude@fiocruz.br
EMENTA DO CURSO
O curso se destina a estabelecer uma leitura crítica das tradições historiográficas e
metodológicas utilizadas para a construção de histórias da higiene mental, frequentemente
estabelecidas dentro da história dos chamados “saberes psi” (psicologia, psiquiatria e
psicanálise) internacional. Propõe-se em seu lugar uma outra concepção, que coloca a
expansão e circulação do pensamento higienista em diferentes países da América Latina
como parte de sua história transcultural. Igualmente, o curso destina-se a discutir a higiene
mental como um amplo objeto cultural, procurando reconstruir o impacto das teorias
higienistas e eugênicas que foram para além dos circuitos intelectuais, apontando para o
nascimento de novos discursos e práticas sociais autorizados tendo ela por base. Considerase,
neste percurso que, com apoio da higiene mental, implementou-se a adoção na
sociedade de uma nova visão antropológica sobre o ser humano, – concebido em termos de
um sujeito marcado pela evolução e pela díade natureza-educação, o que levou à resemantização
de imagens sociais sobre a doença mental, crime, família, papéis de gênero e
infância, criando novos padrões emocionais que certamente impactaram a vida de muitos
latinoamericanos. Neste sentido, este curso vai colocar uma forte ênfase na discussão de
como a proposta analítica do transculturalismo permite gerar novas possibilidades
metodológicas para a investigação e análise histórica latinoamericana.
OBJETIVOS
O objetivo geral da disciplina é aproximar a história da apropriação, implementação e
circulação da higiene mental na América Latina no período 1910-1950 como parte da
história transcultural. Mais especificamente, pretende-se ao longo da disciplina oferecer
uma análise crítica das tradições historiográficas que têm a higiene mental como objeto;
demonstrar o lugar da higiene mental como um sistema de ideias científicas com
características transnacionais e vinculá-la às particularidades da história cultural e como
campo historiográfico; delinear condições de acolhimento local (política, social, econômica,
etc.), que desempenharam um papel crucial e específico na circulação, apropriação e
institucionalização da higiene mental, especialmente no Brasil, Chile e Argentina entre 1910-
1950; e resgatar as contribuições específicas de agentes locais feitas a partir ou mesmo nos
princípios higiênicos, resultando em leituras, hibridizações, elaborações particulares ou
ressemantizações dos conceitos no período definido.
DINÂMICA:
O curso será constituído de um seminário de pesquisa de 04 encontros e de uma palestra
temática. Ao final do curso organizaremos um fórum de discussão sobre os diferentes
projetos de pesquisa dos alunos de dois dias.
Uma seleção de leituras será comunicada aos participantes que deverão articular as leituras
com as suas próprias fontes históricas ou bibliográficas. O objetivo é conduzir uma
perspectiva transnacional dos desenvolvimentos globais da historiografia acerca da higiene
mental, tal como ela vem se desenvolvendo desde a década de 1980 na América Latina.
CRITÉRIO DE SELEÇÃO
O curso / seminário é de interesse para estudantes de pós-graduação stricto sensu
(mestrado e doutorado) em história das ciências e da saúde e de outros pesquisadores que
tenham interesse na história da higiene mental e em reflexões sobre seus impactos
biomédicos, éticos e terapêuticos em diferentes contextos históricos na América Latina.
CRONOGRAMA DO CURSO
AULA 1- A HISTÓRIA DA HIGIENE MENTAL COMO UM PROBLEMA DE PESQUISA E SUA
RELAÇÃO COM A HISTÓRIA CULTURAL
• Tradições historiográficas e o conceito de recepção e de apropriação para pensar
história latinoamericana da higiene mental;
• Articulação entre a Higiene Mental e outros temas cruciais para América Latina,
como conflitos de modernização no Chile, no Brasil e na Argentina; assim como a
sexualidade e o trabalho como uma questão de Estado.
• Doenças de importância social e sua relação com as culturas latinoamericanas: o
alcoolismo, a prostituição, a loucura, o crime e as doenças sexualmente
transmissíveis. A questão da raça.
AULA 2 – HIGIENE MENTAL, PSIQUIATRIA, EUGENIA E PSICANÁLISE
• Higiene social, medicina e a questão das raças no final do século XIX;
• A psiquiatria latinoamericana no final do século XIX. A medicina somática e
eugênica. A influência francesa na região e o problema do degeneracionismo.
• As teorias degeneracionistas do crime. Esterilização e asilamento.
• Mulher latina e a Higiene Mental
• A infância e o futuro das nações latinoamericanas
AULA 3 – HIGIENE MENTAL E A PSICANÁLISE
• Freud e o primitivismo na América Latina: “Onde era o Id, o Ego deve advir;
• Introdução da Psicanálise na higiene mental como prevenção do mal – do demônio
interior e a favor da regeneração: sublimação a serviço da nação.
• Sublimação higiene mental e educação: o caminho para as utopias
AULA 4 – ENCONTRO ÀS QUINTAS: HIGIENE MENTAL NO CHILE
AULA 5 – HIGIENE MENTAL E CIRCUITOS NÃO ESPECIALIZADOS
• Prevenção para todos: a bandeira da Higiene mental “para todos os psicopatas,
alienados ou não”
• A Higiene Mental nos periódicos não-especializados. O caso da Revista Zigue-Zague
e o da Revista Vamos Ler.
• A higiene mental como objeto de apropriação política.
• A higiene mental na caserna e na fábrica.
SEMINÁRIO INTERNO: ORIENTAÇÃO EM GRUPO
Leia no Blog de HCS-Manguinhos:
Saúde mental é tema de edição de HCS – Manguinhos
Edição marca o 15º aniversário da lei da reforma psiquiátrica
O primeiro hospício do Brasil e o controle social
Pesquisadora estudou fichas de entrada e outros documentos do Hospício de Pedro II, no Rio, entre 1883 e 1889
Classificação e entendimento das doenças mentais: quais os efeitos no tratamento do doente mental?
Autor do artigo “Psicose e esquizofrenia: efeitos das mudanças nas classificações psiquiátricas sobre a abordagem clínica e teórica das doenças mentais”, o professor Fernando Tenório analisou os efeitos das mudanças na classificação e entendimento das doenças mentais ocorridos desde a publicação da terceira revisão do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais pela Associação Psiquiátrica Norte Americana em 1980.
Quais as mudanças na saúde mental brasileira 14 anos após a publicação do artigo sobre reforma psiquiátrica?
O autor Fernando Tenório responde em texto e vídeo.
Mentecaptos na história e na literatura brasileiras
Com a palavra, José Roberto Franco Reis
Fenômenos psíquicos e espirituais são tabu científico há 200 anos
Autores de artigo deram entrevista para a Semana Especial de HCS-Manguinhos no Blog SciELO em Perspectiva | Humanas
Psicologia infantil na Argentina de 1935 a 1942
Ana Briolotti investiga o uso médico de técnicas de avaliação psicológica em crianças em internadas em clínicas infantis em Buenos Aires
Arte, saúde mental e atenção pública ontem e hoje em SP
Estudo investiga como práticas usadas entre 1920 e 1990 influenciaram as práticas atuais de CAPs
Estigma social e internalizado: a voz das pessoas com transtorno mental
Em artigo, Larissa Alves do Nascimento e Adriana Leão revelam os resultados da pesquisa qualitativa feita com pessoas com transtorno mental que participam de eventos em espaços públicos comunitários.
Degeneração e eugenia na história da psiquiatria brasileira
Sandra Caponi, da UFSC, discute texto de Renato Kehl intitulado “Uma esterilização de dois grandes degenerados e criminosos”
Pelo fim dos hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico
Artigo defende a substituição das internações no Brasil pelo atendimento em Centros de Atenção Psicossocial
Reforma psiquiátrica é tema de artigo mais acessado de HCS-Manguinhos
Artigo de Fernando Tenório publicado em 2002 retrata luta por tratamento mais humano e inclusivo a doentes mentais no Brasil
Comunidades terapêuticas: propostas higienistas?
Artigo em HCS-Manguinhos discute os propósitos do isolamento de usuários de álcool e drogas hoje e há um século
Leia em HCS-Manguinhos:
Arte, saúde mental e atenção pública: traços de uma cultura de cuidado na história da cidade de São Paulo, artigo de Ana Tereza Costa Galvanese, Ana Flávia Pires Lucas D’Oliveira, Elizabeth Maria Freire de Araújo Lima, Lygia Maria de França Pereira, Ana Paula Nascimento e Andréia de Fátima Nascimento (volume 23, n.2, abr./jun. 2016)
Comunicação e saúde mental: análise discursiva de cartazes do Movimento Nacional de Luta Antimanicomial do Brasil, artigo de Wanda Espirito Santo, Inesita Soares de Araujo e Paulo Amarante (vol.23, n.2, abr./jun. 2016)
“Eu não sou presa de juízo, não”: Zefinha, a louca perigosa mais antiga do Brasil, artigo de Debora Diniz e Luciana Brito (vol.23 n.1 jan./mar. 2016) Comunidades terapêuticas: “novas” perspectivas e propostas higienistas, artigo de Renata Cristina Marques Bolonheis-Ramos e Maria Lucia Boarini (vol.22 n.4 out./dez. 2015)E ainda:
Carrion, Carla Torres Pereira, Margotto, Lilian Rose and Aragão, Elizabeth Maria Andrade As causas das internações no Hospital Adauto Botelho (Cariacica, ES) na segunda metade do século XX. Dez 2014, vol.21, no.4
Almeida, Francis Moraes de. Descontinuidades e ressurgências: entre o normal e o patológico na teoria do controle social. Set 2013, vol.20, no.3
Facchinetti, Cristiana and Muñoz, Pedro Felipe Neves de Emil Kraepelin na ciência psiquiátrica do Rio de Janeiro, 1903-1933. Mar 2013, vol.20, no.1
Gama, Jairo Roberto de Almeida. A constituição do campo psiquiátrico: duas perspectivas antagônicas. Mar 2012, vol.19, no.1
Venancio, Ana Teresa A. Da colônia agrícola ao hospital-colônia: configurações para a assistência psiquiátrica no Brasil na primeira metade do século XX. Dez 2011, vol.18, suppl.1
Facchinetti, Cristiana et al. No labirinto das fontes do Hospício Nacional de Alienados. Dez 2010, vol.17, suppl.2
Facchinetti, Cristiana, Cupello, Priscila and Evangelista, Danielle Ferreira Arquivos Brasileiros de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins: uma fonte com muita história. Dez 2010, vol.17, suppl.2
Santos, Fernando Sergio Dumas dos and Verani, Ana Carolina Alcoolismo e medicina psiquiátrica no Brasil do início do século XX. Dez 2010, vol.17, suppl.2
Nunes, Sílvia Alexim. Histeria e psiquiatria no Brasil da Primeira República. Dez 2010, vol.17, suppl.2
Birman, Joel. A cena constituinte da psicose maníaco-depressiva no Brasil. Dez 2010, vol.17, suppl.2
Nunes, Everardo Duarte. Hollingshead e Redlich: a pesquisa sobre classe social e doença mental cinquenta anos depois. Mar 2010, vol.17, no.1
Oda, Ana Maria Galdini Raimundo and Dalgalarrondo, Paulo História das primeiras instituições para alienados no Brasil. Dez 2005, vol.12, no.3
Jabert, Alexander. Formas de administração da loucura na Primeira República: o caso do estado do Espírito Santo. Dez 2005, vol.12, no.3
Paulin, Luiz Fernando and Turato, Egberto Ribeiro Antecedentes da reforma psiquiátrica no Brasil: as contradições dos anos 1970. Ago 2004, vol.11, no.2
Venâncio, Ana Teresa A. História do saber psiquiátrico no Brasil: ciência e assistência em debate.Dez 2003, vol.10, no.3
Venâncio, Ana Teresa A. Ciência psiquiátrica e política assistencial: a criação do Instituto de Psiquiatria da Universidade do Brasil. Dez 2003, vol.10, no.3
Tenório, Fernando. A reforma psiquiátrica brasileira, da década de 1980 aos dias atuais: história e conceitos. Abr 2002, vol.9, no.1
Wadi, Yonissa Marmitt. Aos loucos, os médicos: a luta pela medicalização do hospício e construção da psiquiatria no Rio Grande do Sul. Fev 2000, vol.6, no.3
Engel, Magali Gouveia. As fronteiras da ‘anormalidade’:psiquiatria e controle social. Fev 1999, vol.5, no.3