Os testes de inteligência no Brasil a partir da década de 1920

Setembro/2019

Item da escala de inteligência Binet-Simon de 1908, que mostra três pares de figuras, e pergunta à criança testada: “Qual dessas duas faces é a mais bonita?” Reprodução de “A Practical Guide for Administering the Binet-Simon Scale for Measuring Intelligence”, artigo de J. W. Wallace Wallin, na revista The Psychological Clinic (v. 5, n. 1, 1911). Domínio público. Fonte: Wikipedia

Novidade da década de 1920, os testes de inteligência, que pretendiam medir o desenvolvimento mental dos indivíduos, despertaram o interesse dos pesquisadores brasileiros Noemy Silveira e Isaías Alves. Eles cursaram disciplinas de psicologia educacional na Universidade de Columbia, em Nova York, e, de volta ao Brasil, testaram em alunos adaptações da escala de Binet, criada por franceses em 1905. Mas o fizeram de formas diferentes.

No artigo Noemy Silveira, Isaías Alves e a psicologia educacional: diálogos entre Brasil, França e EUA (v. 26, n. 2, abr./jun. 2019), Ana Cristina Santos Matos Rocha, pós-doutoranda do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde/Fiocruz, relaciona as experiências com testes de inteligência realizadas pelos pesquisadores com as concepções de psicologia que circulavam no campo educacional brasileiro.

“O artigo pretende sinalizar como, mesmo partindo de interesses semelhantes e tendo em comum a experiência na Columbia University, Alves e Silveira não usaram as mesmas estratégias durante o trabalho de aplicação que desenvolveram nas escolas, enquanto estiveram à frente de serviços de psicologia ligados a diretorias de instrução de São Paulo e do Distrito Federal”, explica a autora.

Segundo Ana Cristina, as experiências de Alves e Silveira em 1930 buscavam um sistema que facilitasse o trabalho do professor, dividindo as crianças não só em grupos que fossem relativamente homogêneos quanto à idade, mas também em relação ao nível de inteligência. Então, cabia ao professor elaborar aulas que correspondessem ao potencial de aprendizagem dos grupos, classificados como fracos, medianos ou fortes. Para concretizar essa organização, a aplicação periódica de testes de inteligência seria fundamental.

Outros educadores, entretanto, questionavam a utilidade dos testes.

“O que estava em jogo era o modelo de expansão do sistema educacional brasileiro, relacionado ao advento da República. É nesse contexto que se situa a convergência entre o ideal de modernização nacional e a crença no papel da educação como elemento de transformação do país. Assim, Alves e Silveira tinham ao seu lado o discurso que associava ciência e modernidade, e que via nos conhecimentos psicológicos um dos caminhos de entrada da ‘ciência na escola'”, revela.

Leia em HCS-Manguinhos:

Noemy Silveira, Isaías Alves e a psicologia educacional: diálogos entre Brasil, França e EUA, artigo de Ana Cristina Santos Matos Rocha (v. 26, n. 2, abr./jun. 2019)