8 de março de 2019
Marina Lemle / Blog de HCS-Manguinhos
Neste Dia Internacional da Mulher, 8 de março, o Blog de HCS-Manguinhos conversou sobre o contexto atual das mulheres na ciência com a matemática e filósofa Tatiana Roque.
Professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ela é autora do livro História da Matemática: uma visão crítica, desfazendo mitos e lendas (Zahar, 2012), premiado com um Jabuti em 2013. Nas últimas eleições, foi candidata à deputada federal pelo PSOL do Rio de Janeiro, tendo como pauta principal a defesa da educação.
Tatiana, que faz pesquisa em filosofia e história da ciência, chama atenção ao fenômeno conhecido como “teto de vidro”, que não se vê, mas está lá. “O ambiente cultural acadêmico é muito viciado e favorece mais os homens”, afirma a mãe do Matias, de 11 anos.
Como é ser mulher na ciência? Quais os principais avanços e o que ainda precisa melhorar?
Uma questão específica das universidades e da ciência é o chamado “teto de vidro”: mesmo que as mulheres participem muito da vida acadêmica, tendo muita entrada nos cursos de graduação, elas não sobem na carreira com a mesma frequência que os homens. Os cargos de professor titular são em maioria ocupados por homens.
E por que isso acontece?
Acontece por vários motivos. Um deles é a dupla, a tripla jornada, porque as mulheres acarretam mais outros afazeres, da casa, dos filhos, o que atrasa um pouco a carreira. Em segundo lugar, o ambiente cultural mesmo, que é muito viciado, feito para homens, e privilegia um modo de se relacionar, de abrir espaços, que favorece mais os homens a chegar a cargos acadêmicos de poder, como chefia e coordenação de laboratórios.
O que pode ser feito para se chegar a um maior equilíbrio?
O lado bom é que isso tem sido feito, existe uma conscientização crescente no mundo acadêmico. Existe, por exemplo, um grupo de mulheres trabalhando nisso na Capes e no CNPq, buscando criar políticas para reverter esse tipo de filtro, de seleção negativa, que tem acontecido. É preciso ter políticas públicas para isso.
E você está otimista?
Bom, nesse exato momento mais ou menos (risos). Com esse governo não dá pra ficar muito otimista, mas dentro das universidades e institutos de pesquisa está tendo muita conscientização sobre esse problema. Há muitos coletivos e organizações de mulheres que têm melhorado bastante a cultura naquele ambiente. Mas, por outro lado, do ponto de vista das políticas de governo, das políticas públicas, estamos tendo um retrocesso gigantesco, então não dá pra ficar muito otimista não. É preciso manter essas organizações, os atos e as políticas que têm sido feitas nos últimos tempos para combater os efeitos perversos do machismo no ambiente acadêmico.
Qual a pertinência da questão de gênero no contexto atual do Brasil?
Agora é mais pertinente do que nunca, porque está havendo uma reação às conquistas obtidas ao longo dos anos pelos coletivos e movimentos de mulheres.
Gostaria de mandar um recado às leitoras de HCS-Manguinhos, em grande parte pesquisadoras das ciências humanas, e muitas jovens em início de carreira?
O recado é para a gente resistir firme, não deixar a peteca cair, que os tempos estão difíceis. Ninguém solta a mão de ninguém, devemos manter essas ações coletivas e não deixar que todas as conquistas que tem havido esmoreçam.
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Edição “Gênero e Ciências”
(v.15, supl.0, 2008)
O império dos hormônios e a construção da diferença entre os sexos, de Fabíola Rohden (Hist. cienc. saude-Manguinhos, v.15, supl.0, 2008)
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Montagner, Maria Inez and Montagner, Miguel Ângelo Mulheres e trajetórias na Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp: vozes singulares e imagens coletivas. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Jun 2010, vol.17, no.2 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702010000200007
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Costa, Maria Conceição da. Divulgando a visibilidade das mulheres na ciência, resenha do livro História das mulheres cientistas, de Eric Sartori (Paris, Plon, 2006). Hist. cienc. saude-Manguinhos, 2008, vol.15 http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702008000500017
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