Junho/2018
Apresentada pelo poder público de Bragança, no nordeste do Pará, como a salvação econômica do município, graças às possibilidades econômicas que abriria ao turismo, a construção da estrada PA-458, entre Bragança e Ajuruteua, para a criação de um balneário teve como conseqüência o aterramento de 26 quilômetros de manguezal, resultando no aterramento de vários canais, matando animais, agredindo a flora e modificando a dinâmica social da população local.
No artigo No meio do caminho havia um mangue: impactos socioambientais da estrada Bragança-Ajuruteua, Pará, publicado na atual edição da revista História, Ciências, Saúde-Manguinhos (vol.25, n.2, abr./jun. 2018), Marcus Vinicius Cunha Oliveira, professor da Secretaria de Educação do Pará, em Bragança, e Márcio Couto Henrique, professor da Faculdade de História e do Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Pará, problematizam os impactos ambientais da construção da estrada – objeto da pesquisa de campo realizada por Oliveira para o seu mestrado em História pela Universidade Federal do Pará, sob orientação de Henrique.
A pesquisa de campo foi realizada entre 2010 e 2014. Foram entrevistados dez mariscadores, todos residentes na comunidade de Bacuriteua, nas proximidades de Bragança. Alguns dos entrevistados trabalhavam no manguezal antes da construção da estrada, enquanto outros eram mais jovens, o que permitiu perceber as diferentes percepções sobre a atividade após as alterações ambientais promovidas pelo aterramento de parte do manguezal.
Oliveira acompanhou um grupo de quatro mariscadores na busca pelo caranguejo, saindo da comunidade de Bacuriteua às 7h e retornando às 17h, registrando todo o processo da coleta de caranguejo, além das dificuldades que marcam o trabalho no manguezal. Além das fontes orais, os pesquisadores utilizaram documentos oficiais da prefeitura municipal de Bragança, jornais de circulação local e estadual e fotografias.
Segundo os autores, armou-se uma engrenagem midiática visando a construção da praia de Ajuruteua como lugar paradisíaco. Por outro lado, as necessidades do ambiente físico e dos moradores locais foram esquecidas pelo poder público. Eles afirmam que a construção da estrada para a criação de um balneário ignorou conseqüências observadas em experiências anteriores na região, como a construção das rodovias Belém-Brasília e Transamazônica.
“No fim das contas, o meio ambiente arca com os maiores prejuízos. Do ponto de vista do poder público, a estrada representa progresso. Já os moradores, muito embora percebam a redução significativa no número de crustáceos no manguezal e estejam presos a uma rede de atravessadores que lhes tira qualquer chance de lucro real, comemoram a abertura da estrada. Acreditando que o caranguejo nunca vai acabar, pois “é dádiva de Deus”, os mariscadores parecem mais preocupados com a ação do Ataíde, ser mitológico de pênis avantajado que assusta o cotidiano dos que trabalham no manguezal”, afirmam.
Leia em HCS-Manguinhos:
No meio do caminho havia um mangue: impactos socioambientais da estrada Bragança-Ajuruteua, Pará, artigo de Marcus Vinicius Cunha Oliveira e Márcio Couto Henrique (vol.25, n.2, abr./jun. 2018)
Como citar este post:
No meio do caminho havia um mangue. Blog da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos, 2018. Publicado em 25 de junho de 2018. Acesso em 25 de junho de 2018. Disponível em www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/no-meio-do-caminho-havia-um-mangue