Março/2018
A infecção por zika teve grande impacto não somente nas grávidas e nos recém-nascidos e suas famílias, mas também na saúde pública, nas ideias populares sobre o Aedes aegypti e no respeito dos direitos sociais das mulheres.
As visões de pesquisadores de diferentes disciplinas inspiram investigações mais abrangentes sobre futuras ameaças epidêmicas no Brasil e na América Latina.
Na última edição de 2017 (vol. 24, n.4, out./dez. 2017), HCS-Manguinhos publicou o debate Zika e Aedes aegypti: antigos e novos desafios, que reúne falas de Ilana Löwy, diretora de pesquisa do Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale (França) e pesquisadora visitante da COC/Fiocruz, Mónica García, professora da Escuela de Ciencias Humanas da Universidad del Rosario (Colômbia), José Moya, representante da Opas/OMS em Venezuela e Antilhas Holandesas, e a doutoranda da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP) Flávia Thedim Costa Bueno, mediados por Marcos Cueto e Roberta Cerqueira, respectivamente editor-científico e editora executiva de HCS-Manguinhos. O debate ocorreu após o seminário “Aedes aegypti: antigas e novas emergências sanitárias”, realizado na Fiocruz em 2 de dezembro de 2016 pela Casa de Oswaldo Cruz em parceria com a Organização Mundial da Saúde, a Organização Pan-americana da Saúde e o Centre for Global Health Histories da Universidade de York, Reino Unido.
O debate se inicia com a pergunta de Cueto a Jaime Bechimol: qual foi o legado da luta contra a febre amarela na América Latina? “O zika revelou uma capacidade de resposta muito grande das instituições científicas, e isso, em grande medida, se deve a essas tradições médicas que têm origem na febre amarela”, respondeu o pesquisador da Casa de Oswaldo Cruz e ex-editor-científico da revista HCS-Manguinhos. Para ele, outro legado importante é que as populações de áreas urbanas já têm alta familiaridade com a questão da transmissão de doenças por mosquitos.
Cueto também levantou questões como o impacto da epidemia de zika no debate sobre contracepção, saúde materno-infantil e as discussões sobre aborto no Brasil e na América Latina e de que maneira as ciências sociais e a história podem contribuir para compreender e orientar políticas públicas para o combate às epidemias de zika e dengue.