Novembro/2017
Pesquisadores brasileiros e chineses encontraram mais de 300 ovos e centenas de restos de esqueletos de pterossauros na região de Hami, noroeste da China. Trata-se da maior concentração de ovos de vertebrados extintos conhecidos até então e que estavam em um bloco com pouco mais de 3m². O material é procedente de rochas formadas há aproximadamente 100 milhões de anos, período geológico denominado de Cretáceo Inferior, e reúne, além de animais jovens e adultos, os primeiros embriões preservados em três dimensões desse grupo, já encontrados. A descoberta foi apresentada nesta quinta-feira (30/11), em entrevista coletiva, no Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelo paleontólogo Alexander Kellner, um dos brasileiros integrantes da equipe de pesquisadores na China. Além dele, outros pesquisadores do estudo estiveram presentes. Segundo Kellner, até a presente data somente se tinha conhecimento de três embriões: dois da China e um da Argentina, todos preservados compactados. “Essa é a primeira vez que embriões são encontrados com os ossos tridimensionais que possibilitaram, inclusive, a elaboração inédita de estudos de seções osteohistológicas – que são lâminas dos ossos – de embriões”, salienta o pesquisador. O estudo está publicado na edição da revista Science de 1º de dezembro (acesse o resumo). Os pterossauros formam um grupo extinto de répteis alados, que foram os primeiros vertebrados a estabelecerem o voo ativo. Para isso eles desenvolveram um extenso quarto dígito (corresponde ao dedo anular), que se tornou a base de sustentação de uma membrana alar, além de ossos extremamente finos. Desta forma, o seu esqueleto é bem frágil, o que dificulta a sua fossilização. Analises com tomografia computadorizada demonstraram que nos animais recém-nascidos os ossos vinculados ao voo ainda não estavam bem ossificados, ao contrário dos ossos das pernas. Tal fato sugere que pelo menos essa espécie de pterossauro, denominada de Hamipterus tianshanensis, desenvolveu cuidado parental, tendo os pais que cuidar de sua prole por algum tempo após o nascimento. Outro ponto importante da descoberta é o fato de que foram encontradas, numa altura de 2,2 metros, oito camadas com concentrações de pterossauros, quatro delas contendo ovos. Cada uma representa um tempo diferente na escala de anos. Isso levou a conclusão de que esses pterossauros eram animais gregários, realizavam a postura de seus ovos em grupo e possivelmente voltavam sazonalmente para a mesma região para porem seus ovos. O público poderá conhecer a nova descoberta em uma pequena exposição com réplicas de parte dos achados que ficarão expostas, a partir de 1º de dezembro, no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. O Museu Nacional, primeiro museu do Brasil e a mais antiga instituição científica de História Natural e Antropologia do País, em 2018 comemora 200 anos de criação. Fonte: Museu Nacional/UFRJ Leia em HCS-Manguinhos: Silva Coutinho: uma trajetória profissional e sua contribuição às coleções geológicas do Museu Nacional, artigo de Marina Jardim Silva, Antonio Carlos Sequeira Fernandes e Vera Maria Medina da Fonseca (vol.20, no.2, jun 2013) A nação pela pedra: coleções de paleontologia no Brasil, 1836-1844, artigo de Paulo Henrique Martinez (vol.19, no.4, dez 2012) Lazzaro Spallanzani e os fósseis: das observações em viagens naturalísticas ao ensino de história natural, artigo de Maria Elice Brzezinski Prestes e Frederico Felipe de Almeida Faria (vol.18, no.4, dez 2011) Cenas de tempos profundos: ossos, viagens, memórias nas culturas da natureza no Brasil, artigo de Maria Margaret Lopes (vol.15, no.3, set 2008) Viajando pelo campo e pelas coleções: aspectos de uma controvérsia paleontológica, artigo de Maria Margaret Lopes. (vol.8, 2001) Os viajantes e a biogeografia, artigo de Nelson Papavero e Dante Martins Teixeira (vol.8, 2001)