Novembro/2017
Será lançado nesta segunda-feira, 27 de novembro, na Livraria da Travessa, em Ipanema, no Rio de Janeiro, o livro Rondon: Inventários do Brasil, 1900 – 1930. Organizado pelas historiadoras Lorelai Kury e Magali Romero Sá, da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz, e editado por Andrea Jakobsson Estúdio, o livro fornece um panorama geral da Comissão Rondon a partir de textos assinados por dez especialistas em diversas áreas do conhecimento, acompanhados de fartas ilustrações, incluindo o valioso acervo fotográfico realizado no período, bem como manuscritos, cadernetas de campo, mapas, aquarelas e etc.
Sob a designação Comissão Rondon, costuma-se reunir as viagens e atividades realizadas por militares brasileiros do setor de engenharia e construção do exército, entre 1900 e 1930, no âmbito dos trabalhos das comissões telegráficas de Mato Grosso (1900-1906) e de Mato Grosso ao Amazonas (CLTEMTA, 1907-1915), incluindo a administração das estações e conservação das linhas; a preparação de relatórios e a criação do Serviço de Proteção aos Índios e Localização dos Trabalhadores Nacionais (SPILTN; as viagens de levantamento e exploração científica de rios, cujo material seria utilizado para a confecção de uma Carta do Estado de Mato Grosso; e, finalmente, a realização dos serviços de Inspeção de Fronteiras aos quais Cândido Mariano da Silva Rondon, o comandante militar da CLTEMTA, dedicou-se de 1927 a 1930.
Associado aos trabalhos de extensão de fios telegráficos, inspeção de fronteiras e contato com populações indígenas remotas, realizou-se um imenso inventário do Brasil. As atividades estratégicas da Comissão Rondon visavam a integrar o território e os povos da República, além de garantir as fronteiras do país. A integração foi também científica e simbólica. Botânicos, zoólogos, antropólogos, geólogos e cartógrafos enfrentaram os perigos das expedições por terrenos desconhecidos, seguindo os passos dos militares. De seus trabalhos resultaram mapas, coleções e análises da flora e da fauna e farto material etnográfico, além de estudos relativos ao curso e à navegabilidade de rios. A atuação dos expedicionários contemplou a produção de fotografias e filmes que, de maneira bastante eficaz, fixaram uma impressionante imagem do Brasil indígena. A Comissão Rondon usava as imagens como forma de legitimação de suas atividades e como registro. A cinematografia da Comissão, por exemplo, realizou o que se considera ser o primeiro filme etnográfico do mundo: “Festas e rituais bororo”. As belas fotografias de paisagens, pessoas e costumes marcaram o imaginário da nação durante todo o século XX e hoje se constituem em rica memória histórica e etnográfica. O desbravamento de regiões que adentraram, os trabalhos científicos que produziram, as imagens do país e de seus habitantes que divulgaram formam um conjunto de informações e representações que influenciou diversas gerações de brasileiros.
A variedade e extensão dos trabalhos empreendidos por civis e militares sob a coordenação de Rondon ainda não foram devidamente avaliadas pela historiografia. As organizadoras destacam que o livro busca refletir sobre a produção de conhecimento realizada durante a Comissão e suas premissas. Por mais diversos que tenham sido os agentes chamados a contribuir com os esforços estratégicos propostos pelo Estado brasileiro, eles de algum modo comungavam concepções epistêmicas e valores patrióticos semelhantes ou ao menos se reconheceram na divisa positivista de “Ordem e Progresso”. O livro, com patrocínio da EDF Norte Fluminense, espera envolver o leitor no amplo universo da Comissão Rondon e dos técnicos e cientistas que a acompanharam.
Sobre as organizadoras
Lorelai Kury e Magali Romero Sá são pesquisadoras e professoras em História das Ciências da Casa de Oswaldo Cruz, Fiocruz, no Rio de Janeiro.
Lorelai Kury é Doutora em História pela École des Hautes Études en Sciences Sociales, Paris e Magali Romero Sá é Doutora em História e Filosofia das Ciências pela Universidade de Durham, Ingaterra.
Ambas pesquisam a história das práticas e teorias científicas. Lorelai dedica-se em particular aos séculos XVIII e XIX e Magali aos séculos XIX e XX.
Demais autores: Nísia Trindade de Lima, Dominichi Miranda de Sá, Maria de Fátima Costa, Íris Kantor, Fernando de Tacca, Marta Amoroso, Paula Montero, Laurent Fedi
(Fonte: Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz)
Leia em HCS-Manguinhos:
Aranha, Patrícia M. Ciência, telégrafos e geografia: os engenheiros militares da Comissão Rondon, 1907-1915. Mar 2013, vol.20, no.1
Caser, Arthur Torres and Sá, Dominichi Miranda de O medo do sertão: a malária e a Comissão Rondon (1907-1915). Jun 2011, vol.18, no.2
Vital, André Vasques. Comissão Rondon, doenças e política:“Região do Madeira: Santo Antônio”, de Joaquim Augusto Tanajura – uma outra visão do Alto Madeira em 1911. Jun 2011, vol.18, no.2
Tacca, Fernando de. O índio na fotografia brasileira:incursões sobre a imagem e o meio. Mar 2011, vol.18, no.1
Drummond, José Augusto. Roosevelt e Rondon desvendam um rio amazônico. 2010, vol.17, no.3
Schäffner, Wolfgang. Los medios de comunicación y la construcción del territorio en América Latina. Set 2008, vol.15, no.3
Sá, Dominichi Miranda de, Sá, Magali Romero and Lima, Nísia Trindade Telégrafos e inventário do território no Brasil: as atividades científicas da Comissão Rondon (1907-1915). Set 2008, vol.15, no.3
Lima, Nísia Trindade. Missões civilizatórias da República e interpretação do Brasil. Jul 1998, vol.5