Na Bahia de 1875, a medicina e o evolucionismo foram utilizados pelo médico, jornalista e militante republicano Domingos Guedes Cabral como armas ideológicas para propor um programa radical de reformas sociais no país. O programa incluía diversas propostas no campo da educação, controle dos casamentos, assistência médica aos alienados, mudanças no sistema penal, tudo com base em conhecimentos científicos da época.
Entre as ideias sociais de Guedes Cabral, a questão racial é o foco de análise do artigo A questão racial na obra de Domingos Guedes Cabral, de
Segundo os autores, Domingos Guedes Cabral constitui um exemplo particularmente significativo para entender como foram os primeiros passos na peculiar aliança estabelecida entre evolucionismo, medicina e racismo científico no Brasil desde a década de 1870, momento de chegada do darwinismo no país. Em Funções do cérebro, seu único livro, publicado em 1876, em Salvador, a incorporação ideológica do novo paradigma evolucionista coincide com uma preocupação central em apresentar soluções “científicas” aos problemas colocados pelas “raças” e sua mestiçagem na população.
Acolhendo a herança deixada no país por autores criacionistas como Gobineau e Agassiz, Guedes Cabral fez a primeira defesa explícita do poligenismo dentro de princípios evolucionistas, buscando delimitar um conjunto de diferenças inatas entre as raças em sua organização cerebral. Aos olhos do médico baiano, a disposição cerebral natural de cada impossibilitaria qualquer tentativa social igualitária no terreno das relações inter-raciais entre os descendentes de europeus e o restante da população brasileira. Nesse sentido, sua obra representa um exemplo pioneiro da aliança entre ciência e racismo.
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A questão racial na obra de Domingos Guedes Cabral, artigo de
Acesse o sumário da edição especial “A eugenia latina em contexto transnacional” (vol.23, supl.1, dez. 2016)
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Pereira Filho, Roberto Sobreira and Waizbort, Ricardo As funções de um cérebro darwinista: Guedes Cabral e o evolucionismo de Funções do cérebro (1876). Dez 2013, vol.20, no.4