Fevereiro/2017
A revista HCS-Manguinhos lamenta o falecimento do historiador e antropólogo Ricardo Augusto Benzaquen de Araújo, ocorrido em 1o de fevereiro de 2017.
Nascido em 1952, Benzaquen graduou-se em História na PUC-Rio e fez mestrado e doutorado em Antropologia na UFRJ. Como professor da PUC e do Instituto Universitário de Pesquisas do Estado do Rio de Janeiro (Iuperj), adquiriu respeito e admiração de colegas e alunos não apenas pelo seu conhecimento acadêmico e talento como docente, mas também por suas qualidades humanas.
Benzaquen escreveu sobre futebol, integralismo, Gilberto Freyre e Joaquim Nabuco, entre outros temas. Destacam-se os livros Totalitarismo e Revolução – O Integralismo de Plínio Salgado (ed. Zahar, 1988) e Guerra e Paz – Casa-Grande & Senzala e a obra de Gilberto Freyre nos anos 30 (Editora 34, 1994).
O coordenador do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz), Robert Wegner, que foi orientando de doutorado e amigo de Benzaquen, conta que aprendeu a escrever com ele:
“É difícil falar dele sem se referir a estes lances de memória que remetem a uma relação pessoal. Mesmo as orientações se transformavam em amizade e isto não significava uma diminuição de rigor, antes, pelo contrário. Amizade não significava condescendência e os diálogos densos se davam entre amigos. Sua contribuição como professor, orientador, colega e, recobrindo a todas essas categorias, amigo, é enorme e deixa marcas profundas na vida e na carreira daqueles que compartilharam da sua companhia. Muitos desses casos, certamente, serão lembrados e contados, geralmente, penso eu, em casos que remetem ao seu bom humor e fina ironia. Mas quero evitar, neste momento, um depoimento de ordem pessoal para me ater à sua contribuição escrita para as Ciências Sociais e a História.”
Leia o depoimento completo de Robert Wegner, que descreve de forma aprofundada a contribuição de Ricardo Benzaquen para as Ciências Sociais e a História.
O historiador Vanderlei Sebastião de Souza, professor da Universidade Estadual do Centro-Oeste, Paraná, conheceu a produção intelectual de Benzaquen ainda como estudante de graduação:
“Encantei-me desde cedo por suas argutas análises sobre o Brasil, em especial aquelas relacionadas ao pensamento intelectual e político brasileiros. Como especialista em história intelectual, sua obra deixou raízes profundas na historiografia, com destaque para seus trabalhos sobre Joaquim Nabuco, Gilberto Freyre, Capistrano de Abreu, Plinio Salgado, além de pesquisas sobre o integralismo e o totalitarismo. Seu livro sobre a Gilberto Freyre talvez seja a sua obra mais importante, uma vez que possibilitou pensar a obra de Gilberto Freyre, e o próprio pensamento social brasileiro, em outros termos, valorizando a complexidade da história intelectual e cultural brasileira. Não seria exagero dizer que as interpretações de Ricardo Benzaquen nos ensinaram a reler a obra de autores como Gilberto Freyre, sobretudo de Casa-Grande & Senzala, livro emblemático para entender o Brasil e a cultura brasileira.”
Para Vanderlei de Souza, apesar da importância de sua produção intelectual, Ricardo Benzaquen foi muito além de sua obra, pois sua atuação como professor, intelectual e humanista marcou várias gerações de estudantes de graduação e pós-graduação, sendo reverenciado tanto no campo da história e da antropologia quanto da sociologia e das ciências políticas. “Era um intelectual completo, desses que nos encantam por suas análises amplas, profundas e inspiradoras, cujas reflexões abrem caminhos para novas formas de interpretar e ler o mundo. Enfim, a morte de Ricardo Benzaquen de Araújo é uma perda indescritível, seja pelo legado de sua obra, seja por representar um modelo de professor e intelectual difícil de encontrar nos dias de hoje”, afirma.
Destacamos a sua publicação mais recente, na revista Topoi (vol.17 no.32 Jan./June 2016): Terra de ninguém: escravidão e direito natural no jovem Joaquim Nabuco
Leia o depoimento de Robert Wegner sobre Ricardo Benzaquen de Araújo