Ultrassom obstétrico e a estratificação dos cuidados à saúde

Maio/2016

Exame de ultrassom mostra o desenvolvimento do feto. Foto: Wikipedia

Ultrassom mostra o desenvolvimento do feto. Foto: Wikipedia

Orgulhosa, a gestante sai da clínica carregando fotos e vídeos do seu bebê, devidamente nomeado. Enquanto isso, noutro canto da cidade, uma grávida atendida às pressas após longa espera na fila parte sem qualquer souvenir.

O caráter estratificado da biomedicalização no acompanhamento pré-natal é o tema do artigo “Exame bento” ou “foto do bebê”? Biomedicalização e estratificação nos usos do ultrassom obstétrico no Rio de Janeiro, de Lilian Krakowski Chazan e Livi F.T. Faro, publicado na atual edição de HCS-Manguinhos.

As observações para o estudo foram realizadas em três clínicas particulares e em dois contextos de atendimento público: um hospital universitário e uma maternidade. As pesquisadoras perceberam que a difusão do fenômeno de biomedicalização varia de acordo com o estrato social das gestantes, produzindo corpos fetais e gestantes, assim como processos gestacionais, totalmente diversos, dependendo da camada social das mulheres atendidas.

Segundo as autoras, no universo das clínicas, era produzido um feto-bebê-pessoa, com nome, fotos e vídeos, potencializando o consumo de exames. No hospital universitário era construído um feto-paciente-modelo, transformado em conhecimento médico, em que a gestante é objeto de estudo. Já na maternidade pública, era produzido um feto-número, com diagnósticos sumários, alimentando estatísticas.

“Verificamos disparidades entre os universos observados, o que evidencia estágios heterogêneos dos processos de medicalização e de biomedicalização”, afirmam as autoras. Elas explicam que, pela perspectiva dos estudos de biomedicalização, a estratificação vincula-se firmemente à comodificação da saúde, e o cuidado passa a ser delineado e moldado a partir de sua transformação em objeto de consumo. “Quem pode pagar pelos serviços é merecedor de atenção dos profissionais e tem acesso às tecnologias mais avançadas”, esclarecem.

O estudo visa contribuir para a discussão acerca da estratificação dos cuidados à saúde no Brasil, assim como lançar luz sobre diferentes processos de construção – ou não – de cidadania desde antes do nascimento.

Leia em HCS-Manguinhos:

“Exame bento” ou “foto do bebê”? Biomedicalização e estratificação nos usos do ultrassom obstétrico no Rio de Janeiro, de Lilian Krakowski Chazan e Livi F.T. Faro.

Acesse o sumário da edição (vol. 23, n.1, jan./mar. 2016)

Leia no blog de HCS-Manguinhos:

Biomedicalização de corpos brasileiros
Nova edição de HCS-Manguinhos aborda diagnósticos, tratamentos e práticas que transformam vidas, sobretudo de mulheres

Como citar este post:
Ultrassom obstétrico e a estratificação dos cuidados à saúde. Blog de HCS-Manguinhos. [viewed 4 May 2016]. Available from: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/ultrassom-obstetrico-e-a-estratificacao-dos-cuidados-a-saude-no-brasil/