Novembro/2015
A virada do século XIX para XX foi um período de grande incidência da febre amarela no Brasil e de crescente influência da bacteriologia nas teorias sobre as enfermidades. Elucidar questões envolvendo o agente causal e os meios de propagação da febre amarela renderia muito prestígio no campo científico.
No artigo “Teorias sobre a propagação da febre amarela: um debate científico na imprensa paulista, 1895-1903”, os pesquisadores Soraya Lódola e Edivaldo Góis Junior, da Unicamp, descrevem a disputa simbólica entre médicos de posições teóricas, ideológicas e políticas distintas. A partir de pesquisa documental em jornais de grande circulação de São Paulo e periódicos médicos da época, os autores problematizam o modo como os médicos de São Paulo comunicavam suas descobertas sobre o tema na intenção de conquistar o capital simbólico da descoberta científica.
“Demonstramos um cenário em que o campo da medicina paulista estava envolto em disputas intensas pelo poder. Quando os médicos optam pelos jornais de grande circulação como veículo de comunicação de seus relatos, em um contexto de transformações das práticas e teorias da medicina, o elegem como ferramenta poderosa no sentido de ampliar suas redes de socialização, formando grupos. Essa escolha também gera indícios de que tanto quanto contribuir para a elucidação de um problema científico, os médicos buscavam prestígio e reconhecimento”, afirmam os autores, que também coletaram dados empíricos no Arquivo Público do Estado de São Paulo e na biblioteca da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
Os adeptos da bacteriologia, seguidores de Pasteur, venceram o debate, o que estabeleceu um habitus para uma medicina científica baseada na experimentação laboratorial.
Leia em HCS-Manguinhos:
Teorias sobre a propagação da febre amarela: um debate científico na imprensa paulista, 1895-1903, artigo de Soraya Lódola e Edivaldo Góis Junior, vol. 22, n.3, jul.-set. 2015.
Leia no Blog de HCS-Manguinhos:
Campinas: laboratório da febre amarela
Em artigo publicado em HCS-Manguinhos, Valter Martins discute o trabalho da Comissão Sanitária do Estado de São Paulo para conter a doença no fim do século XIX
O papel de Havana na busca pelo germe causador da febre amarela no século 19
Steven Palmer, da Universidade de Windsor, Canadá, abordou o tema em workshop sobre doenças tropicais na Fiocruz.
Ideias de raça influenciaram diagnóstico da febre amarela no Caribe no início do séc. 20
Tara Innis, da Universidade de West Indies, em Trinidad e Tobago, participou de mesa no workshop sobre doenças tropicais realizado na Fiocruz de 1º a 3 de julho
Leia em História, Ciências, Saúde – Manguinhos:
Cidade-laboratório: Campinas e a febre amarela na aurora republicana, artigo de Valter Martins, vol.22, n.2, jan./abr. 2015
Antiescravismo e epidemia: “O tráfico dos negros considerado como a causa da febre amarela”, de Mathieu François Maxime Audouard, e o Rio de Janeiro em 1850. Artigo de Kaori Kodama, vol.16, no.2, Jun 2009
A cidade e a morte: a febre amarela e seu impacto sobre os costumes fúnebres no Rio de Janeiro (1849-50) Artigo de Cláudia Rodrigues, vol.6, no.1, Jun 1999
Combates sanitários e embates científicos: Emílio Ribas e a febre amarela em São Paulo Artigo de Marta de Almeida, vol.6, no.3, Fev 2000
Produzindo um imunizante: imagens da produção da vacina contra a febre amarela Artigo de Aline Lopes Lacerda e Maria Teresa Villela Bandeira de Mello, vol.10, supl.2, 2003
Da ‘abominável profissão de vampiros’: Emílio Goeldi e Os mosquitos no Pará (1905) Artigo de Nelson Sanjad, vol.10, no.1, Abr 2003
Representação e intervenção em saúde pública: vírus, mosquitos e especialistas da Fundação Rockefeller no Brasil Artigo de Ilana Löwy, vol.5, no.3, Fev 1999