Outubro/2015
Ele é o rei dos mentirosos. Diz verdades na tampa da cara.
É o augusto companheiro com quem se anda na companhia dos deuses.
Também é cupincha do Sem Nariz. Seus caminhos levam à verdade nua
e à morte. Ele transmite uma visão clara e engendra sonhos lodosos.
É o inimigo da vida e o professor de uma sabedoria além da visão da vida.
É um matador desalmado, assassina a juventude.
Jack London, em Memórias alcoólicas (1913).
Considerada referência no tema do alcoolismo, a obra Memórias alcoólicas, do escritor norte-americano Jack London (1876-1916), foi elaborada durante as discussões da Lei Seca e do Sufrágio Universal, emendas que viriam a ser aprovadas em 1920.
London inicialmente posicionou-se contra o sufrágio feminino e mais tarde defendeu o voto feminino e a proibição da comercialização de bebidas alcoólicas.
Díspares em um primeiro momento, os dois acontecimentos históricos encontram sentido na ficção de London nos argumentos de que as mulheres “são as verdadeiras conservadoras da raça”, “zelarão em favor dos meninos ainda por nascer” e ainda pagam com cansaço em consequência das bebedeiras masculinas nos saloons.
Em Alcoolismo e estética da existência: Jack London e a lógica branca de John Barleycorn, artigo da próxima edição de HCS-Manguinhos já disponível no SciELO, Marco Antonio Arantes, professor de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, discute a adesão confusa e contraditória de London à Lei Seca. Beberrão incorrigível, afirmava nunca ter sido alcoólatra e maldizia o gosto do álcool. Proibicionista, London repreende moralmente o álcool como um destruidor de famílias e um mau exemplo para os jovens, mas dilui tais convicções numa relação ambígua e confusa sobre o álcool, como se na sua condição de bebedor experimentado ensinasse os jovens a como não beber bebendo ou a beber racionalmente sem se embriagar.
“Memórias alcoólicas é uma obra de ambivalências, de aceitação e negação ao álcool”, afirma Arantes. Ele explica tratar-se de um romance autobiográfico no qual dois planos coexistem – o real e o fictício.
No artigo, o autor também busca estabelecer relações entre a obra lançada em 1913 e a temática do cuidado de si, problematizada por Michel Foucault cerca de setenta anos depois.
Leia em HCS-Manguinhos:
Alcoolismo e estética da existência: Jack London e a lógica branca de John Barleycorn, artigo de Marco Antonio Arantes
Sumário (vol.22 n.4 out./dez. 2015)
Como citar este post [ISO 690/2010]:
Memórias alcoólicas: obra de Jack London é tema de artigo em HCS-Manguinhos. Blog de HCS-Manguinhos. [viewed 8 December 2015]. Available from: http://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/memorias-alcoolicas-obra-de-jack-london-e-tema-de-artigo-em-hcs-manguinhos