Outubro/2015
Max Altman | Opera Mundi
Maior dos anatomistas da Renascença, ele quebrou os tabus impostos pela Igreja e avançou como nunca os estudos sobre o corpo humano
Andreas Vesalius, o maior dos anatomistas da Renascença, um dos primeiros a praticar a dissecação do corpo humano, cujas observações permitiram corrigir as noções errôneas de Galeno, considerado o “pai da anatomia moderna” e autor do atlas de anatomia “De Humani Corporis Fabrica”, morre em Zakinthos, na Grécia, em 15 de outubro de 1564.
Vesalius, Andries van Wesel em holandês, nasceu em 31 de dezembro de 1514, perto de Bruxelas, então sob o domínio do Sacro Império Romano Germânico. Era filho de uma família reno-flamenga de sábios ligados à medicina, originários de Wesel, antigo ducado de Clèves, na Renânia Inferior. O olhar frio, despido de toda a sensibilidade, levou o pequeno André a fazer suas primeiras observações sobre a pele, os músculos, as vísceras e os ossos de cadáveres de animais e de esqueletos que os pássaros haviam limpado. Em 1533, aos 18 anos, sob o reinado de Francisco I, passa três anos em Paris para estudar medicina. É aluno de Joannes Guinter e de Jacques Dubois, pseudônimo Sylvius, emérito professor de anatomia. O ensino que recebe foi livresco, fundado na medicina galênica e árabe. A anatomia era totalmente negligenciada e as dissecações raras. Os cursos consistiam na leitura dos textos de Galeno, enquanto um “cirurgião” explicava como realizar uma autopsia. À época, a faculdade podia organizar duas vezes ao ano a dissecação de um cadáver. Numa delas, em um anfiteatro cheio de estudantes e curiosos, o “barbeiro”, encarregado da autópsia, sofrendo, ouve a plateia sussurrar o nome de Vesalius. Empurrado pelos colegas, ele assume a dissecação. O professor Sylvius mostra-se espantado com a destreza e inteligência do aluno. Aos 20 anos, Vesalius adquiria notoriedade como anatomista. No século IV, a medicina era herdeira apenas de dois grandes mestres: Hipócrates (século V a.C.) e Galeno (século II). As polêmicas morais e religiosas sucitadas pelas questões da alma, da gestação, regimes alimentares ou do tratamento refletiam a influência do cristianismo sobre a medicina.
No século XV, Galeno era ainda a principal referência dos médicos. Apesar da Igreja não ter proibido a dissecação dos corpos, o malentendido derivou de uma bula do papa Bonifácio VIII (1235-1303) que pretendia simplesmente limitar a prática do desmembramento dos corpos. Malgrado o acordo dos papas Sisto IV e Clemente VII, a Inquisição continuou a impor sua reprovação. Grotius, no século XVII, cognominado o “Pai dos Direitos das Pessoas” falava ainda da ‘‘profanações sacrílegas e crueldades inúteis praticadas pelos vivos sobre os mortos”.
Fonte: Opera Mundi
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