Setembro/2015
“Ou nós oferecemos uma oportunidade de qualificação para o professor de educação básica ou ele vai continuar como está até o fim”, afirmou o historiador Carlos Fico a alunos e professores do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz. Na conversa, realizada em junho de 2014 e publicada na seção “Debate” desta edição de HCS-Manguinhos (v.22, n.3, jul/set 2015), o coordenador da área de história da Capes demonstra preocupação com os milhares de alunos que saem das licenciaturas, atuam na educação básica e ficam desassistidos. “Enquanto exercemos teoricamente muito bem a história nas nossas teses e dissertações, vamos mal na nossa realidade profissional não estritamente acadêmica”, disse.
Fico, que é professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ), falou sobre o ProfHistória, uma rede nacional de mestrados profissionais voltados para a qualificação continuada do professor de educação básica. Segundo ele, a iniciativa teve muita resistência no início, mas deverá ter um impacto grande, com a realização de editais anuais para a criação de novos polos do programa.
O professor também destacou programas de pós-graduação que se associam a secretarias de educação, entidades do patrimônio público, arquivos e museus, ampliando o mercado de trabalho para os formandos. “Há muitas oportunidades de trabalho além do mundo universitário, de modo que é preciso que nossos programas formem pessoas aptas a atuar também nessas outras áreas. Para isso precisamos romper com preconceitos. Até recentemente, quem se formava em história e não queria seguir carreira acadêmica não encontrava nenhuma opção de qualificação continuada, que passaram a ter com os mestrados profissionais”, defendeu.
Outro tema abordado por Fico na conversa na COC/Fiocruz foi a internacionalização. Para ele, a barreira da língua existe, mas outros aspectos podem ser levados em consideração nas avaliações. “Os livros de história do Brasil são certamente mais difíceis de publicar no exterior. Mas esse é um aspecto da expressão propriamente material dessa produção. Não significa que não haja uma ambiência internacional na qual esse livro foi produzido”, afirmou.
De acordo com o professor, as comissões de área nos últimos três triênios têm dado muita atenção à convivência e ao intercâmbio constante com pares estrangeiros que os programas podem propiciar. Segundo ele, cada área pode estabelecer critérios em um documento e submeter à Capes. Uma vez aprovados, tais critérios tornam-se a regra para aquela área. “Temos de dizer para a Capes – e não o inverso – o que nós consideramos internacionalização.”
O professor abordou ainda critérios e desafios de avaliação para a Capes, analisou o panorama do campo, fez críticas ao produtivismo acadêmico, tratou de distorções na formação do historiador e do dilema sobre o perfil esperado do mestrado acadêmico. Ele também defendeu maior maturidade da área em termos de reconhecimento e atendimento das demandas sociais e o aperfeiçoamento de procedimentos internos da área, como a avaliação por pares.
Leia em HCS-Manguinhos:
A pós-graduação em história: tendências e perspectivas da área
Transcrição da fala de Carlos Fico em encontro com alunos e professores do Programa de Pós-graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz em junho de 2014