Abril/2015
O cientista Vital Brazil, mundialmente conhecido pela descoberta da especificidade dos soros antiofídicos, faria 150 anos em 2015.
Vital Brazil Mineiro da Campanha nasceu em 28 de abril de 1865, em Campanha, Minas Gerais, e faleceu em 8 de maio de 1950, na capital carioca. É considerado um dos grandes nomes na história da ciência. Médico e sanitarista, Vital Brazil foi um dos primeiros pesquisadores de toxinologia – o estudo das toxinas – nas Américas e de medicina experimental no Brasil.
Na virada dos séculos XIX e XX, liderou frentes de combate a diversas epidemias que eclodiram no país, como a febre amarela, cólera, varíola e peste bubônica. As pesquisas assinadas por ele são pioneiras na produção dos soros específicos contra venenos de animais peçonhentos (serpentes, escorpiões e aranhas). Até hoje, salvam milhares de vidas. Tais pesquisas romperam paradigmas e contribuíram à inovação de conceitos e práticas nas ciências médicas e biológicas. Nenhum outro método de neutralização da peçonha é mais eficaz do que o criado por Vital Brazil, em 1894.
Em 1917, quando recebeu a patente do soro antiofídico, decidiu imediatamente doá-la ao governo brasileiro. Preocupava-se principalmente com a Saúde Pública. Dentre os numerosos e determinantes legados deixados por ele, destacam-se a criação do Instituto Butantan (fundado oficialmente em 1901, em São Paulo) e do Instituto Vital Brazil (fundado em 1919, em Niterói). Ambas instituições tornaram-se referenciais de excelência na formação de pesquisadores, na produção de medicamentos e na divulgação e popularização das ciências no país.
O cientista Vital Brazil Mineiro da Campanha é o primeiro filho de José Manuel dos Santos Pereira Junior (1837-1931) e de Mariana Carolina Pereira de Magalhães (1845-1913). Depois dele, vieram mais seis irmãs e um irmão.
O interior mineiro foi pano de fundo da infância de Vital Brazil. O processo de crescimento num lugar distante da Corte e de centros urbanos contribuiu para que Vital Brazil focasse, futuramente, na realidade rural. A formação escolar se deu em um período que ocorreram mudanças significativas nos métodos de ensino vigentes, sobretudo, pela influência do trânsito regular, pelo país, de educadores e missionários protestantes. Estudou na cidade de Caldas sob a orientação de um mestre presbiteriano. Em épocas ainda imperiais e escravistas, os genes e valores mineiros de liberdade certamente colaboraram para moldar no menino Vital muitas de suas características, como uma das mais referenciadas: a autonomia tanto no pensar, quanto no agir.
Em 1880, aos 15 anos de idade, mudou-se com sua família para São Paulo, cidade em que conseguiu alcançar muitos de seus anseios. Após completar os estudos preparatórios, Vital Brazil foi ao Rio de Janeiro, Corte do Império Brasileiro, onde cursou a Faculdade de Medicina, de 1886 a 1891. Logo após sua formatura, em que defendeu a tese “Funções do Baço”, em janeiro de 1892, retornou para São Paulo, onde se casou com sua prima em segundo grau, Maria da Conceição Philipina de Magalhães. Maria da Conceição morreu em março de 1913 e deixou ao viúvo Vital Brazil nove filhos.
Vital Brazil contraiu febre amarela em dois momentos. Na segunda vez, em 1893, estava em missão sanitária no interior de São Paulo, na cidade de Belém do Descalvado. Sua esposa e sua mãe, apreensivas com os constantes riscos que Vital enfrentava nos combates às epidemias, convenceram-no a aceitar o convite para clinicar em Botucatu. Na época, aquela era a mais próspera localidade da região do centro-oeste paulista. Em 1º de julho de 1897, Vital Brazil ingressa no Instituto Bacteriológico, instituição que viu ser fundada em 1892, quando já trabalhava para o Serviço Sanitário de São Paulo. Por pouco mais de dois anos, a partir desta data, integrou a pequena equipe de médicos que atuava sob a orientação de Adolfo Lutz (1855-1940). Após diagnosticar, combater e contrair a peste bubônica na cidade de Santos, entre outubro e novembro de 1899, Vital Brazil retorna ao trabalho no Instituto Bacteriológico. Em dezembro deste mesmo ano, inicia a adaptação de um velho rancho na então distante Fazenda Butantan, situada a 9 km da capital paulista, com a responsabilidade de montar e organizar ali um laboratório que servisse à produção de soro antipestoso. Nesta época, Vital Brazil já possuía estudos avançados sobre o problema do ofidismo e tratamento soroterápico.
Vital Brazil fundou e dirigiu o Instituto Butantan por 20 anos, de 1899 a 1919, e foi convidado pelo Governo do Estado de São Paulo a retornar à direção desta instituição, por mais 4 anos, em 1924. Criou, co-fundou e colaborou com diversas revistas científicas, como a Revista Médica de São Paulo, e escreveu dois livros: A Defesa contra o Ophidismo, em 1911, reeditado e ampliado em 1914, somente em francês, e Memória Histórica do Instituto Butantan, em 1941. Publicou dezenas de artigos científicos, em diferentes línguas e periódicos. Por meio de alguns testemunhos e citações de cientistas e eminentes personalidades mundiais pode-se chegar a uma avaliação, mesmo que breve, sobre a contribuição de Vital Brazil para a Ciência e para a Medicina, assim como sobre o papel que desempenhou na História.
Aos 54 anos de idade, em 1919, viúvo há seis anos, Vital Brazil já havia alcançado reconhecimento mundial pelo conjunto da obra acerca da soroterapia específica aplicada aos envenenamentos por animais peçonhentos. Além disso, havia contribuído enormemente a diversos campos ligados à saúde pública do país. Casou-se novamente, em 1920, com Dinah Carneiro Vianna (1895-1975), e desta união nasceram mais nove filhos. Simultaneamente, Vital Brazil já ganhava netos dos filhos do primeiro casamento. Desta forma, constituiu uma grande família. O cientista faleceu de uremia (concentração abusiva de ureia no sangue) no início da manhã do dia 8 de maio de 1950, em sua residência, no Rio de Janeiro.
O Instituto Vital Brazil, fundado em 1919, é uma instituição de ciência e tecnologia do Governo do Estado do Rio de Janeiro ligado à Secretaria de Estado de Saúde. O instituto em Niterói é um dos 21 laboratórios oficiais brasileiros, um dos quatro fornecedores de soros contra o veneno de animais peçonhentos e produtor de medicamentos para o Ministério da Saúde.
Fonte: Instituto Vital Brazil
Leia em HCS-Manguinhos:
O Laboratório de Artrópodes do Instituto Butantan e os aracnídeos peçonhentos, artigo de Sylvia Lucas (v.10 n.3 set./dez. 2003)