Março/2015
Poderiam as paixões e as chamadas ações imorais produzir males do peito?
Esta pergunta intrigava os médicos John Connoly e Peter Mere Latham nas décadas de 1820 e 1830. Eles queriam saber se perturbações nervosas ou paixões do espírito poderiam redundar em males do coração. Mas o que estava em questão não era ainda a concepção de psicogênese das doenças, ideia que só surgiria décadas depois. Naquela altura, ressaltava-se o aspecto ético-moral do esforço. Assim, o mal cardíaco era visto como uma consequência da transgressão do código moral vitoriano.
Mais tarde, a “síndrome do coração irritável” começou a ser identificada em soldados da guerra civil americana. Segundo o médico Jacob Mendes Da Costa, sintomas como palpitações teriam fundo emocional. Ele via nos pacientes uma “neurose cardíaca”, uma vez que não havia sinais de doença coronariana envolvidos.
No artigo O coração irritável nos discursos médicos anglo-americanos no fim do século XIX, Yuri C. Vilarinho examina as características e condições do surgimento desta categoria nosológica e discute a influência dos valores morais sobre as atitudes de médicos militares em relação aos sintomas de medo dos combatentes. O autor também analisa teorias etiológicas inglesas e americanas que contribuíram para a caracterização nosológica do sofrimento dos soldados com sintomas de palpitação.
Leia em HCS-Manguinhos:
O coração irritável nos discursos médicos anglo-americanos no fim do século XIX, artigo de Yuri C. Vilarinho (vol.21, n.4, out/dez 2014)