Dezembro/2014
Max Altman | Opera MundiEm 22 de dezembro de 1992, o juiz paraguaio José Agustin Fernandez e o ex-prisioneiro político Martin Almada descobriram por acaso o arquivo secreto da inteligência repressiva paraguaia em uma delegacia da “Seção Política e Afins” da Polícia de Investigações, num subúrbio de Assunção. O processo de investigação para se localizar os registros solicitados conseguiu uma informação confidencial que confirmou a existência dos arquivos no lugar indicado no qual encontraram o que a imprensa paraguaia classificou de “Arquivo do Terror”.
O arquivo guardava décadas de história documentada no Paraguai e em outros países, onde também encontraram registros da cooperação da inteligência norte-americana com os ditadores da região.
A documentação encontrada confirmou que na vigência da Operação Condor foram cometidos assassinatos do ex-chanceler chileno Orlando Letelier – assassinado nos Estados Unidos; do ex-presidente da Bolívia Juan José Torres, assassinado na Argentina; dos políticos uruguaios Zelmar Michelini e Hector Gutierrez Ruiz; assim como do doutor Agustin Goyburu, dirigente do Movimento Popular Colorado do Paraguai e de vários ativistas políticos chilenos, argentinos, paraguaios, uruguaios e brasileiros.
Existem evidências de que tanto o ditador chileno Augusto Pinochet, quanto o ditador paraguaio Alfred Stroessner dedicaram especial atenção ao fortalecimento da coordenação de seus respectivos serviços de segurança, tendo se reunido em diversas oportunidades.
O registro guarda cerca de 700 mil páginas da Direção de Assuntos Técnicos do Departamento de Investigações do ditador Alfredo Stroessner. Os documentos representam 35 anos da história oculta do Paraguai, mas também descobrem o esquema Condor, que ajudou a ceifar vidas e liberdades além das fronteiras dos países sob ditadura.
O documentarista Alfredo Boccia, um médico paraguaio que dirigiu a primeira classificação parcial dos papéis, disse que “a respeito da Operação Condor, estes arquivos demonstraram sua existência, negada por todos os governos da época, com base em documentação oficial”.
Cerca de 10 mil fotografias de perseguidos políticos e desaparecidos do Paraguai, Argentina, Brasil, Uruguai, Chile e Bolívia, complementam uma coleção de escritos relacionados a atividades do “Comunismo Internacional”. “No caso chileno, com segurança as provas podem conduzir até Pinochet. O Condor transgrediu os limites do permitido para converter-se num ato coletivo de delito político”, disse Boccia.
Martín Almada, por sua vez, disse que eles são “um centro de documentação que guarda todo o tipo de provas, principalmente sobre a Operação Condor, que foi idealizada por Pinochet como forma de repressão continental”.
Mas o arquivo não guarda dados sobre os casos mais conhecidos de operações internacionais do regime de Pinochet no exterior: o assassinato do ex-comandante do Exército, Carlos Prats, e do ex-chanceler socialista Orlando Letelier. Prats foi morto em Buenos Aires em setembro de 1974 e Letelier em pleno coração de Washington, dois anos mais tarde. Os assassinos do diplomata haviam passado em algum momento pelo Paraguai, segundo investigações jornalísticas.
Especialistas judiciais encarregados da documentação enviaram ao juiz espanhol Garzón cerca de 1.300 páginas com documentos que envolviam de um modo ou de outro o general Pinochet e outros governantes da época em delitos contra os direitos humanos.
Os delegados paraguaios da VII Conferência Bilateral de Exércitos na Argentina, em 1977, argumentavam a necessidade de uma repressão internacional porque “tinham plena confirmação das conexões e apoios entre grupos subversivos do Chile, Paraguai, Argentina, Bolívia, Uruguai e outros”.
Fonte: Opera Mundi
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