Novembro/2014
O Brasil aumentou a sobrevida de pacientes diagnosticados com câncer de mama e de próstata, que estão entre os mais comuns no mundo. Os dados foram apresentados esta semana pelo estudo Concord-2 da revista de saúde inglesa The Lancet, que avaliou mais de 23,3 milhões de pessoas em 67 países. A pesquisa atribui o resultado brasileiro à expansão do acesso da população aos serviços de saúde, exame e tratamento.
Segundo o estudo, a taxa de sobrevivência para o câncer de mama no Brasil aumentou de 78%, em 2000, para 87%, em 2005, mesmo percentual registrado em países como os Estados Unidos. Para o câncer de próstata, o índice foi ainda maior, chegando a 96% de sobrevivência, mais que o dobro se comparado à chance de sobrevivência no mundo, que é de 40%.
O diagnóstico precoce associado ao tratamento eficaz da doença foi apontado pelo Concord-2 como o principal avanço do Brasil. Para o câncer de mama, o aumento de sobrevida deve-se à redução na mortalidade pós-operatória com tratamento adequado. Já no caso do tumor de próstata, a melhoria foi relacionada diretamente à maior oferta do exame conhecido como Antígeno Prostático Específico (PSA), teste de sangue usado no diagnóstico da doença.
“O estudo reforça a importância da expansão da oferta de exames e do tratamento adequado. No caso do Brasil, sem dúvida, a existência de um sistema público de saúde foi fundamental para os avanços apontados pela revista inglesa. O governo federal tem investido não só na oferta de serviços no SUS, mas também na inclusão de medicamentos mais modernos”, ressaltou o ministro da Saúde, Arthur Chioro.
ATLAS DO CÂNCER – O aumento de sobrevida constatado no estudo Concord-2 ocorre nos tipos de câncer com maior mortalidade no Brasil segundo o Atlas da Mortalidade 2014 lançado pelo Instituto Nacional do Câncer nesta sexta-feira (28). O Atlas informa valores brutos e taxas de mortalidade causadas pelos diferentes tipos de câncer até o ano de 2012 e permitirá, pela primeira vez, o recorte por municípios. Entre 2003 e 2012, a taxa de mortalidade por câncer em homens passou de 103,12 para 104,95 para cada grupo de 100 mil. Em mulheres o índice passou de 72,5 para 75,19 no período para cada 100 mil mulheres. Segundo o INCA, considerando correções quanto ao crescimento e envelhecimento da população, é possível avaliar os números como decréscimo.
O câncer de mama apresenta a maior mortalidade entre as mulheres – com 12,1 mortes para cada 100 mil habitantes – apesar de permanecer estável nos dez últimos anos, uma vez que em 2002, a taxa foi de 11,9 mortes. Para o rastreamento da doença, a mamografia é o exame mais eficiente. Entre 2010 e 2013, houve aumento de 51,1% nos exames realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em mulheres de 50 a 69 anos. A detecção precoce do tumor e início do tratamento aumentam as chances de cura.
O lançamento do Serviço de Referência para o Diagnóstico de Câncer de Mama (SDM), em novembro de 2013, disponibilizou R$ 3,7 milhões por ano para incentivar unidades habilitadas em oncologia a ampliarem o acesso às mamografias. As unidades habilitadas recebem 60% a mais pela realização dos exames, como incentivo para a adesão à estratégia, concentrando o atendimento a pacientes em uma unidade de referência, e ofertando, em um só local, uma série de exames para diagnóstico de câncer de colo do útero ou de mama.
“O Atlas é uma fonte segura para estudos epidemiológicos e também auxilia profissionais da saúde pública a determinar prioridades na criação de políticas públicas cada vez mais eficientes. Ele permite visualizar as taxas de mortalidade por câncer, fazer a análise da relação entre o óbito e estilo de vida, condições ambientais e diferenças populacionais. Também é possível obter séries históricas, conhecer diferenças regionais e desenhar as tendências da doença para os próximos anos”, avalia a coordenadora-geral da Área de Atenção à Saúde das pessoas com doenças crônicas, Patrícia Chueiri.
POPULAÇÃO MASCULINA – Entre os homens, o câncer de pulmão e brônquios possui a maior taxa de mortalidade, seguindo a tendência mundial, uma vez que trata-se de um câncer agressivo e que geralmente apresenta os primeiros sintomas já em estágio avançado. Considerando a análise de uma década, os números também apresentam tendência de estabilidade. Em 2002, 16,42 a cada 100 mil morriam pela doença. Em 2012, a taxa está em 15,54. No entanto, entre as mulheres, o índice está crescendo, saindo de 6,18 para 8,18 a cada 100 mil no mesmo período. Este aumento pode ser explicado pelo fato de 90% dos casos de câncer de pulmão estar associado ao tabagismo.
A expectativa é que a redução de fumantes no país, registrada nos últimos anos, influencie os índices futuros. Para quem deseja parar de fumar, o SUS oferece tratamento gratuito que conta, com acompanhamento do paciente por profissionais de saúde e medicamentos (entre adesivos, pastilhas, gomas de mascar e o bupropiona). Recentemente, o Ministério regulamentou a lei antifumo, que proíbe fumo em locais fechados e evita o consumo passivo.
O câncer de colo de útero também faz vitimas fatais e ocupa a terceira posição no ranking do Atlas, com taxa de 4,72 mortes a cada 100 mil mulheres. A incorporação da vacina contra o HPV que passou a ser ofertada na rede pública este ano para meninas de 11 a 13 anos tem como objetivo reduzir casos e mortes ocasionados pelo câncer de colo do útero. Em 2013, 10,1 milhões de exames citopatológicos foram realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De 2011 a 2013, foram realizados 32,4 milhões de exames pelo SUS, com um investimento de R$ 216,6 milhões.
O segundo câncer mais letal entre os homens brasileiros é o de próstata. As taxas se mantém estáveis: 12,4 a cada 100 mil, em 2002, para 13,65, em 2012. Para o diagnóstico deste tipo de câncer, os testes PSA realizados aumentaram em 67% entre 2008 e 2013. Em relação às biópsias de próstatas, foram realizados 44.924 procedimentos em 2013, o que representa 20% a mais do que em 2012.
No Atlas também é possível observar uma queda na taxa de mortalidade por câncer de estômago, terceiro no ranking de maior letalidade entre homens. Em 2002, 11,41 a cada 100 mil morriam em decorrência da doença. Em 2012, foram registradas 9,39 mortes. Além da melhoria do diagnóstico e tratamento, o avanço pode ser associado à melhoria da conservação dos alimentos pela população, com ampliação do acesso à geladeira e diminuição da exposição da bactéria Helicobacter pylori (H. pylori), que causa infecções que podem evoluir a câncer.
O investimento do Ministério da Saúde na assistência oncológica cresceu quase 40% em três anos, totalizando R$ 2,8 bilhões em 2013. A expansão dos recursos resultou no maior acesso ao diagnóstico precoce e tratamento, bem como inclusão de medicamentos mais modernos (seis novos medicamentos passaram a ser oferecidos no SUS desde 2011, como Imatinibe, Trastuzumabe e Asparaginase). Houve um aumento de mais de 20% na realização de radioterapia e quimioterapia entre 2010 e 2013, chegando a 10 milhões de procedimentos radioterápicos e 2,7 milhões de quimioterapia. Atualmente, o SUS oferta tratamento oncológico em 283 unidades hospitalares em todo país.
Fonte: Agência Saúde/Ministério da Saúde
Acesse o estudo Concord-2.
Acesse o Atlas da Mortalidade 2014 do Inca
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