500 anos de alemães no Brasil

Maio/2014

Maria Clara Paixão de Sousa | Humanidades Digitais
500anosEm 7 e 8 de maio, acontece o Simpósio 500 Anos de Alemães no Brasil, realizado pela Área de Língua e Literatura Alemã do Departamento de Letras Modernas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, inaugurando a exposição Iconografia na Coleção Mindlin de Livros Alemães do Século XVI ao Século XX– ambos na Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP.

A programação completa do Simpósio está disponível aqui, e também no site da FFLCH.

Os eventos são promovidos por duas equipes: o Grupo de Pesquisas RELLIBRA, Relações Linguísticas e Literárias Brasil-Alemanha, fundado e certificado em 1993, credenciado na USP e no CNPq, coordenado pela Profa. Dra. Celeste Henriques Marquês Ribeiro de Sousa (Departamento de Letras Modernas, FFLCH-USP); e a equipe de Catalogação, descrição e edição de documentos impressos em língua alemã na Brasiliana Digital, coordenada pelo Prof. Dr. José da Silva Simões (Departamento de Letras Modernas, FFLCH-USP) no Grupo de Pesquisas Humanidades Digitais.

Imagem em “Nova genera et species plantarum […]” , Carl Friedrich Philipp von Martius, 1824.
Acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mildlin, USP.

Nosso Grupo anuncia esses eventos com muito orgulho. O trabalho com a – riquíssima – coleção de textos em alemão no acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin da USP começou, em 2010, no âmbito de nosso Grupo, com a chegada do Prof. José da Silva Simões, que coordenou diversos projetos dedicados a apoiar a Biblioteca na catalogação das obras escritas em alemão entre 2010 e 2014.

São produtos dessa época diversos trabalhos de tradução e adaptação de obras em alemão do acervo da BBM, alguns deles anunciados neste blog (aquiaqui, e aqui).

Esse nosso orgulho em anunciar o evento vem de dois lados (aparentemente) opostos.

Primeiro, um lado mais imediato e compreensível (e de fato, um pouco maternal) – o orgulho de ver a competência, a relevância e a beleza de um projeto nascido no contexto do ambiente de pesquisas que tentamos implementar na Biblioteca desde 2009 –  quatro anos antes do edifcio que a abriga ser inaugurado, em 2013.

 Tatuagem tradicional de habitante de Nukuhiwa.
Acervo da Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin, USP.

 
Segundo, um lado diametralmente oposto –  o orgulho agridoce de ver uma criança crescer e caminhar, independente, pelo mundo.

Pois hoje os projetos da área de tradução em língua alemã originalmente abrigados em nosso grupo ganham novas dimensões, autônomas e maduras, como é esperado dos bons projetos. Muito além dos objetivos originais do nosso grupo – que se focavam, fundamentalmente, na extroversão do acervo com base nas tecnologias digitais – os projetos na área de alemão agora alcançam novos horizontes, muito mais amplos, como se vê nesse Simpósio e na sua discussão extremamente rica sobre a presença dos alemães no Brasil desde o século XVI.

Assim deve ser – assim é o destino das boas – das excelentes – parcerias de pesquisa.

Nesse contexto, nos permitimos aproveitar das prerrogativas do orgulho materno para salientar a felicidade do encontro entre a Biblioteca  Mindlin da USP e o grupo responsável pela organização deste Simpósio, capitaneado por José Simões e Celeste Ribeiro de Sousa.

Esses pesquisadores chegaram, magistralmente, a um objetivo que poucos atingem (um objetivo a que poucos, de fato, almejam): transformaram uma latência em uma potência. Ou seja: transformaram o tesouro escrito em alemão encerrado no acervo da Brasiliana Mindlin da USP em um universo vivo, trabalhável, muito além da latência – transmutação, que, afinal, é própria do milenar ofício da tradução, e do muito mais recente ofício da digitalização.

Trata-se, nos dois casos de traduzir  – afinal – num sentido profundo.

Mensageiro da província de Jaén Bracamoros (Detalhe).
No livro Des Freiherrn Alexander von Humboldt und Aimé Bonpland Reise (…), Volume 4.
Acervo da Brasiliana Guita e José Mindlin, USP.

O nascimento dessas obras em nova forma – em novo formato, em nova língua, em novo momento histórico- representa, assim, a tarefa mais solene das humanidades desde a antiguidade – e-ditar, trazer à luz.

A tradução, entretanto, está talvez entre as mais injustiçadas das artes (traduttore, traditore!), certamente por culpa da nossa incompreensão frente à tarefa imensa e dilacerante do tradutor, esse transmutador – esse alquimista das idéias.

A digitalização, notemos, não é menos incompreendida, e não é menos injustiçada. E envolve, também ela, uma alquimia, uma transmutação poderosa: do papel para a tela, dos traços em pena para os bits – uma tradução material.

O trabalho do tradutor-digitalizador, portanto, talvez esteja entre os mais ingratos, entre os menos apreciados…

Mais uma razão para o nosso aplauso, nossa admiração e nosso orgulho pelo trabalho dos tradutores-digitais dos projetos da área de alemão do nosso Grupo de Pesquisas, e por seu Simpósio.

Parabéns a todos! Aguardamos o Simpósio e a exposição com grande antecipação.

Clique para abrir a programação completa

Fonte: Humanidades Digitais

Leia em HCSM

De carona, destacamos os seguintes artigos do Dossiê Brasil – Alemanha: relações médico-científicas:

Rocha Lima: germanofilia e intercâmbio científico
Promotor das relações médico-científicas entre Brasil e Alemanha na primeira metade do século XX, ele teve sua postura política questionada

Pai da eugenia no Brasil ficou obscuro na história
Defensor da ‘higiene racial’, o médico Renato Kehl assumiu a propaganda eugênica como missão política e intelectual entre 1917 e 1940

Se é Bayer…
Empresa alemã usava periódicos para promover seus produtos entre médicos e farmacêuticos brasileiros na primeira metade do século XX

Os inimigos invisíveis do império alemão
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Brasil: paraíso ou inferno
No artigo “Insalubridade, doenças e imigração: visões alemãs sobre o Brasil”, Karen Macknow Lisboa investiga escritos de viajantes alemães envolvidos com a questão imigratória desde o contexto do Império alemão até a ascensão do nazismo e o III Reich.

E ainda:

Médicos alemães no Rio Grande do Sul, na primeira metade do século XXintegração e conflito 

O projeto Revista Médicaperiódicos médicos como instrumentos da política cultural externa alemã para a América Latina, 1920-1938 (em inglês)

Rudolf Kraus em busca do “ouro da ciência”a diversidade tropical e a elaboração de novas terapêuticas, 1913-1923 

Emil Kraepelin na ciência psiquiátrica do Rio de Janeiro, 1903-1933

Eugenia ‘negativa’, psiquiatria e catolicismoembates em torno da esterilização eugênica no Brasil

Nota do Blog

Conheça nossa edição “Ciência e Viagens”