Fevereiro/2016
Max Altman | Opera Mundi
Em 23 de fevereiro de 1954, um grupo de crianças de uma escola na Pensilvânia, nos Estados Unidos, recebeu as primeiras injeções da nova vacina contra a poliomielite, desenvolvida pelo médico Jonas Salk.
Embora não tão devastadora quanto a peste negra ou a gripe espanhola, a poliomielite era uma enfermidade altamente contagiosa que emergia como um surto e parecia impossível de conter, em meados do século XX. Atacando as células nervosas e por vezes o sistema nervoso central, a pólio causava deterioração muscular, paralisia e mesmo a morte. Ainda que a medicina tivesse avançado enormemente durante a primeira metade do século nos países ocidentais, a poliomielite ainda assolava, afetando principalmente as crianças, mas também adultos. A mais famosa vítima de um surto ocorrido em 1921 nos EUA foi um político de 39 anos, Franklin Roosevelt, que viria a ser presidente. A doença avançou rapidamente levando suas pernas a uma paralisia permanente.
No final dos anos 1940, a “March of Dimes” (Marcha dos Tostões), uma organização de pessoas simples do povo fundada com a ajuda do presidente Roosevelt para encontrar um meio de se defender contra a pólio, conseguiu envolver Jonas Salk, chefe do Laboratório de Pesquisa de Vírus da Universidade de Pittsburgh. Salk tinha chegado à conclusão de que a pólio tinha cerca de 125 variedades de 3 tipos básicos e que uma vacina eficaz deveria reunir condições de combater todas os três. Fazendo aumentar os vírus isolados da pólio para então desativá-los ou “matá-los” pela adição de um produto químico chamado formalin, Salk desenvolveu sua vacina, capaz de imunizar o paciente sem infectá-lo.
Após as inoculações em massa, que começaram em 1954, todos ficaram maravilhados com a alta taxa de sucesso – algo em torno de 60%-70% – até a vacina ter causado um súbito surto de cerca de 200 casos. Determinou-se posteriormente que os casos foram todos provocados por um lote defeituoso do medicamento. Os padrões de produção foram aperfeiçoados e em agosto de 1955, perto de 4 milhões de pessoas, a grande maioria de crianças, já haviam sido inoculadas. Os casos de poliomielite nos EUA caíram de 14.647 em 1955 a 5.894 em 1956. Em 1959, em torno de 90 outros países passaram a utilizar a vacina Salk.
Uma versão posterior de vacina contra a pólio, desenvolvida por Albert Sabin, empregou uma forma atenuada de vírus vivos. A vacina passou a ser aplicada via oral e não mais injetada. Foi licenciada e autorizada sua aplicação em 1962 e logo se tornou mais difundida que a vacina de Salk, por ser mais barata e mais fácil de vacinar em massa.
Ainda não existe cura para a poliomielite. Mas a utilização da vacina Sabin em vastas campanhas populares ao redor do mundo praticamente eliminou os casos de pólio nos países que a utilizam. Globalmente, são contabilizados cerca de 250 mil casos por ano, particularmente em países subdesenvolvidos.
Fonte: Opera Mundi
Artigos do dossiê ‘Historias de la poliomielitis’:
– Lo ganado y lo perdido después de dos décadas desde que América Latina fue declarada zona libre de poliomielitis, artigo de Adriana Alvarez e Dilene Raimundo do Nascimento
– Políticas sanitarias locales puestas a prueba: consultores, expertos, misiones internacionales y poliomielitis en España, 1950-1975, artigo de Rosa Ballester, María Isabel Porras, María José Báguena. Também disponível em inglês.
– Los desafíos médicos, sociales e institucionales que dejó la poliomielitis: la rehabilitación integral en la Argentina de mediados del siglo XX, artigo de Adriana Alvarez
– Una batalla ganada: la eliminación de la poliomielitis en Cuba, artigo de Enrique Beldarraín Chaple
– Una enfermedad lejana: la información sobre poliomielitis y síndrome post-polio en la prensa hispanolusa, 1995-2009, artigo de Juan Antonio Rodríguez Sánchez, Inês Guerra Santos
– Poliomielite: várias histórias da doença e de seus efeitos tardios, resenha de Lina Faria do livro A história da poliomielite, de Dilene Raimundo do Nascimento (Garamond, 2010).
Leia também em HCS-Manguinhos:
– A história da poliomielite no Brasil e seu controle por imunização, artigo de André Luiz Vieira de Campos, Dilene Raimundo do Nascimento e Eduardo Maranhão (v.10, supl.2, 2003)
– Vacinas e campanhas: as imagens de uma história a ser contada, artigo de Ângela Pôrto e Carlos Fidelis Ponte
– Erradicação da poliomielite no Brasil: a contribuição da Fundação Oswaldo Cruz, artigo de Hermann G. Schatzmayr, Ana Maria Bispo de Filippis, Fabian Friedrich (v.9, no.1, Abr 2002)