Março/2015
Em 26 de março de 1953, o médico e pesquisador norte-americano Jonas Salk anuncia num popular programa radiofônico que havia testado com sucesso uma vacina contra a poliomielite, o vírus que causa a paralisante enfermidade da pólio, geralmente conhecida como paralisia infantil por afetar principalmente crianças. Em 1952 – ano em que a epidemia de pólio grassou – houve 58 mil novos casos relatados nos Estados Unidos e mais de três mil morreram dessa moléstia. Pela perspectiva de finalmente erradicar a enfermidade, Salk foi celebrado como o grande médico-benfeitor de seu tempo.
A pólio, uma doença que afetou a humanidade ao longo dos tempos, ataca o sistema nervoso e pode causar diversos graus de paralisia. Uma vez que o vírus é facilmente transmitido, as epidemias constituíam-se em lugar comum nas primeiras décadas do século 20.
A primeira grande epidemia de poliomielite nos Estados Unidos ocorreu no estado de Vermont no verão de 1894 e no curso já do século 20 milhares de pessoas eram afetadas a cada ano. O tratamento era limitado às quarentenas e se fazia uso do tristemente célebre pulmão de aço, um aparelho semelhante a um cofre de aço para auxiliar na respiração. Embora as crianças, e em especial as de tenra idade, fossem as mais afetadas, adultos eram também frequentemente infectados, como o futuro presidente Franklin D. Roosevelt, que em 1921 foi acometido de pólio aos 39 anos que o deixou parcialmente paralisado.
Roosevelt transformou mais tarde sua propriedade em Warm Springs, Geórgia, num retiro para a recuperação de vítimas da pólio e foi fundamental para a coleta de fundos para as pesquisas científicas relacionadas com a enfermidade e o tratamento dos pacientes.
Salk, nascido em Nova York em 1914, realizou inicialmente pesquisas sobre distintos vírus nos anos 1930, ainda estudante de medicina da Universidade de Nova York. Durante a Segunda Guerra Mundial ajudou a desenvolver vacina contra a gripe. Em 1947, tornou-se chefe do laboratório de pesquisas da Universidade de Pittsburgh e em 1948 foi-lhe concedida uma subvenção para estudar e desenvolver uma possível vacina contra o vírus da poliomielite. Em 1950, produziu uma versão experimental de sua vacina.
O procedimento de Salk, tentado primeiramente sem sucesso pelo dr. Maurice Brodie nos anos 1930, era destruir diversas variedades do vírus para então injetar os vírus benignos na corrente sanguínea de uma pessoa saudável. O sistema imunológico dessa pessoa iria então criar anticorpos destinados a resistir a uma future exposição à poliomielite. Salk levou a efeito suas primeiras experiências humanas em ex-pacientes de pólio, nele próprio e em membros de sua família. Em 1953 se disse pronto para anunciar suas descobertas.
O fato aconteceu na rede nacional de rádio CBS na noite de 25 de março e dois dias depois num artigo publicado no Boletim da Associação Médica Americana. De imediato, Salk se tornou uma celebridade.
Em 1954, experimentos clínicos empregando a vacina Salk e um placebo – preparação neutra quanto a efeitos farmacológicos, ministrada em substituição de um medicamento, com a finalidade de suscitar ou controlar as reações – começaram a ser administrados a cerca de dois milhões de crianças em idade escolar. Em abril de 1955, anunciou-se que a vacina era eficaz e segura. Em seguida deu-se início a uma campanha de inoculação em âmbito nacional. Novos casos de pólio despencaram para 6 mil em 1957, o primeiro ano em que a vacina passou a ser amplamente disponível. Em 1962, uma vacina oral, desenvolvida pelo medico Albert Sabin tornou-se disponível, facilitando enormemente a distribuição da vacina.
Entre outras honrarias, Jonas Salk foi condecorado com a Medalha Presidencial da Liberdade em 1977. Morreu em La Jolla, Califórnia, em 1995.
Fonte:
Leia em História, Ciências, Saúde – Manguinhos:
Erradicação da poliomielite no Brasil: a contribuição da Fundação Oswaldo Cruz, artigo de Hermann G. Schatzmayr et al (vol.9, no.1, abr 2002)
A história da poliomielite no Brasil e seu controle por imunização, artigo de André Luiz Vieira de Campos, Dilene Raimundo do Nascimento e Eduardo Maranhão. Hist. cienc. saude-Manguinhos, vol.10, supl.2, 2003.
Vacinas e campanhas: as imagens de uma história a ser contada, artigo de Ângela Pôrto e Carlos Fidelis Ponte, pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz/Fiocruz (vol.10 supl.2 , 2003).