Abril/2015
Max Altman | Opera Mundi
No dia 10 de abril de 1755, nasceu em Meissen, no leste da Alemanha, Christian Friedrich Samuel Hahnemann, o médico que iria revolucionar os métodos terapêuticos. Iniciou o curso de Medicina na Universidade de Leipzig, porém, insatisfeito com o enfoque exclusivamente teórico das aulas, transferiu-se para Viena.
Embora considerado bom médico, Hahnemann estava desiludido com a pouca eficácia dos métodos terapêuticos usados na época. Em 1790, traduziu o tratado Matéria Médica, do inglês Willian Cullen, que relatava as propriedades curativas da Chinchona officinalis, ou quinina, contra a malária. Intrigado, Hahnemann testou em si mesmo a substância e desenvolveu sintomas semelhantes aos da doença. Subitamente, tomou consciência do que ocorrera: quinina acarretava sintomas semelhantes aos apresentados pela enfermidade que curava.
Hahnemann experimentou outras drogas como beladona, mercúrio, digital, ópio, arsênico e diversos medicamentos de uso corrente na época. Os testes confirmaram sua teoria. Cada remédio provocava uma doença similar àquela para a qual era ordinariamente receitado. Similia similibus curantur ou “semelhante cura semelhante”. Hahnemann desvendara assim o princípio da homeopatia.
Hahnemann publicou, em 1796, o importante ensaio ‘Um novo método para averiguar os princípios curativos das drogas’. No século 5 a.C., Hipócrates, pai da medicina, já afirmava que uma doença podia ser combatida com substâncias que causavam sintomas parecidos, teoria já mencionado na Índia mais de 2 milênios antes. No século XVI, o suíço Paracelso (1493–1541) afirmava que venenos ministrados em pequenas doses podiam curar enfermidades. Entretanto, o princípio “Similia similibus curantur” só foi batizado posteriormente por Hahnemann como homeopatia – do grego “homoion” similar e “pathos” doença.
Hahnemann começou seus tratamentos aplicando grandes doses. Mas, devido a efeitos colaterais, procurou desenvolver um procedimento para proteger o paciente e evitar intoxicações. Passou então a diluir as substâncias para que fossem ministradas em pequenas quantias. Hahnemann concluiu também que, se os processos de saúde, doença e cura são dinâmicos, o medicamento também deveria ser. Sendo assim, as substâncias homeopáticas passariam pelo chamado processo de dinamização: ao serem preparadas, deveriam sofrer batidas fortes e ritmadas para despertar a energia contida nos elementos.
A nova terapia era uma opção aos tratamentos primitivos e sem base científica, como a prática de sangrias, ingestões de purgantes e substâncias tóxicas.
A controvérsia em torno de seus métodos contribuiu para que Hahnemann mudasse várias vezes de cidade. Em 1821, estabeleceu-se em Köthen, onde recebera autorização para a fabricação de seus medicamentos. Nessa época, escreveu seu último livro importante, ‘Doenças crônicas, sua natureza e tratamento homeopático’, publicado em 1828.
Os êxitos do método homeopático, porém, eram proporcionais às críticas que recebia. Médicos adeptos da medicina tradicional incitaram farmacêuticos contra Hahnemann. Muitos consideravam a homeopatia um sistema nulo, de valor puramente especulativo, e até prejudicial à saúde. Na Áustria havia inclusive um decreto que proibia sua prática. Já em Praga, o médico que lançasse mão dos novos métodos seria condenado a pagar multa. Reincidentes tinham o diploma cassado e eram exibidos, como malfeitores, em praça pública.
Em 1831, Hahnemann ajudou a conter uma epidemia de cólera na Europa. O sucesso no tratamento da moléstia despertou interesse internacional. Na Áustria, os governantes aboliram o decreto anti-homeopatia. Na França, as idéias de Hahnemann ganharam adeptos e nos EUA formou-se uma sociedade homeopática.
Mais tarde, foi na França que Hahnemann encontrou o reconhecimento ao seu trabalho que lhe fora negado em seu país de origem. Hahnemann morreu aos 88 anos, em Paris, no dia 2 de julho de 1843. Seus estudos foram rapidamente difundidos e serviram de inspiração para novas gerações de clínicos.
Hahnemann e seus discípulos desenvolveram 100 substâncias curativas. Hoje há cerca de 3 mil delas. Ao longo dos anos, os métodos homeopáticos evoluíram muito, mas seus princípios básicos, desvendados por Hahnemann, perduram após mais de dois séculos.
O Brasil é um dos países com maior número de médicos homeopatas do mundo e calcula-se que cerca de 17 milhões de brasileiros já tenham recorrido à medicina de Hahnemann. No território nacional existem cerca de 15 mil médicos exercendo a homeopatia, 2 mil farmacêuticos e o mesmo número de farmácias especializadas.
Fonte: Opera Mundi
Leia em HCSM:
– Histórias da homeopatia na América Latina e na Espanha
– Homeopatia: história e fundamentos epistemológicos, de Hylton Sarcinelli Luz
– Similia Similibus Curentur: revisitando aspectos históricos da homeopatia nove anos depois, de Anderson Domingues Corrêa, Rodrigo Siqueira-Batista, Luis Eduardo M. Quintas, e Romulo Siqueira-Batista
– A cidade de Santos no roteiro de expansão da homeopatia nos serviços públicos de saúde no Brasil, de Anderson Domingues Corrêa, Rodrigo Siqueira-Batista, Luis Eduardo M. Quintas e Romulo Siqueira-Batista
– Estratégias homeopáticas: a Liga Homeopática do Rio Grande do Sul nos anos 1940-1950, de Beatriz Teixeira Weber