Fevereiro/2025
![Capa da última leva de artigos de HCS-Manguinhos, v. 31, 2024, traz foto de alunos da Escola Paulista de Medicina nos anos 1950](https://www.revistahcsm.coc.fiocruz.br/wp-content/uploads/2025/02/capa18x26-31_dezfrente-HCSM.jpg)
Capa da última leva de artigos de HCS-Manguinhos, v. 31, 2024, traz foto de alunos da Escola Paulista de Medicina nos anos 1950
A foto de alunos da Escola Paulista de Medicina em 1951 inspirou a capa da última atualização do volume 31, de 2024, da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos. A imagem da capa se refere ao artigo “A modernização do ensino na Escola Paulista de Medicina e a Fundação Rockefeller, 1956-1962“, de Ricardo dos Santos Batista, professor da Universidade do Estado da Bahia. O autor analisa a circulação do conhecimento científico entre Brasil e EUA, a partir dos financiamentos da agência à EPM para modernizar seu ensino médico. Saiba mais
O artigo integra a última leva de artigos deste volume da revista, que há dois anos passou a ser publicada em fluxo contínuo, com atualizações periódicas.
Epidemias, notícias falsas e negacionismo
Outro artigo que foi ao ar busca traçar um paralelo entre a epidemia de varíola iniciada no Ceará em 1900 e a pandemia de Covid-19 no Brasil em 2020. De acordo com artigo das pesquisadoras Érica Cavalcante Lima e Zilda Maria Menezes Lima, respectivamente, da Universidade Federal e Estadual do Ceará, apesar dos 120 anos que separam esses dois momentos, há importantes semelhanças como ambas as emergências foram conduzidas politicamente. O estudo indica que nos dois casos circularam informações falsas sobre a necessidade de se implementar uma vacinação em massa. Ainda segundo o estudo, os governantes foram omissos em relação a medidas de contenção das doenças e protocolos de segurança e agiram de forma negacionista diante das evidências que demonstravam a gravidade das enfermidades.
A relação entre meio ambiente e epidemias, tão em voga nos últimos anos, é tema do artigo de Maria Marta Lobo de Araújo, professora do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho. O estudo analisa as principais epidemias que atingiram Portugal ao longo da Idade Moderna – entre os séculos 15 e 18 -, como surtos de cólera, varíola e sífilis. De acordo com o artigo, fatores ambientais favoreceram o alastramento de doenças e potencializaram sua virulência, disparando as taxas de mortalidade em um período em que a medicina era insuficiente para combater certas enfermidades.
Seguindo na direção do intenso processo de internacionalização pelo qual a revista passa já há alguns anos, também foram publicados outros artigos contando com a participação de autores estrangeiros, bem como colaborações entre pesquisadores do Brasil e de fora do país. Entre eles, consta estudo de Juan-Sebastián Bonilla, Alvaro Idrovo e Helwar-Hernando Figueroa, da Universidade Industrial de Santander, na Colômbia, sobre o caso da exploração de mercúrio na mina “La Esperanza”, abordando a intoxicação causada pelo metal no local e o tratamento médico dado aos trabalhadores. Já o artigo de Carla Ribeiro Guedes, professora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF) e Adriana Kaulino, professora na Universidade Diego Portales, em Santiago, Chile, aborda a institucionalização da psicanálise na Argentina e no Brasil, centrando-se no intercâmbio de profissionais da área, dos dois países, entre 1942 e 1959. Destaca-se ainda artigo do pesquisador Pablo Chávez Zúñiga, da Universidad Bernardo O’Higgins, também no Chile, sobre epidemia de cólera no país entre 1886 e 1888, e artigo de Oksana Golovashina e Sergey K. Lyamin, da Universidade Federal dos Urais, na Rússia, sobre doenças entre campesinos russos no século 19.
Entre os autores brasileiros, há trabalhos de temas variados. No artigo que gerou a imagem de capa desta última leva de atualização, Ricardo Santos, professor da Universidade do Estado da Bahia, estudou os financiamentos da Fundação Rockefeller à Escola Paulista de Medicina entre 1956-1962. Foram publicados ainda artigos sobre temas como a estatização da saúde na reforma sanitária brasileira, o processo de reflorestamento e ocupação do maciço da Tijuca, a coleção de paleoinvertebrados do Museu Nacional, projeto de combate ao câncer, o sanitarismo britânico, vacinação contra a varíola no Paraná, bem como as práticas de cura tradicionais dos indígenas bororos, revelados a partir de relatos de uma expedição ao sertão de Mato Grosso em 1911.
Nessa leva de artigos também há trabalhos de pesquisadores e egressos dos programas de pós-graduação da Casa de Oswaldo Cruz (PPGHCS/COC-Fiocruz), bem como artigos sobre a instituição. Denis Jogas, pós-doutorando na COC, é autor de um estudo sobre a institucionalização da parasitologia em São Paulo. A circulação de ideias sobre a esquizofrenia nos círculos psiquiátricos do Rio de Janeiro entre as décadas de 1910 e 1920 é abordada pela pesquisadora da Casa Ana Teresa Venâncio e pelo egresso do PPGHCS Reilson Beraldo. O estudo observa a existência inicial de críticas à categoria esquizofrenia e indica que esse diagnóstico circulou de modo significativo em importantes instituições científicas e assistenciais, em detrimento da ideia de demência precoce. Na seção de revisão historiográfica, a pesquisadora da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro Rafaella Bettamio entrevistou pesquisadores da Casa de Oswaldo Cruz para refletir sobre as possibilidades da escrita da história das ciências. Além disso, artigo de Renato Kinpis e Ilza Carla Favaro, publicado na seção Fontes, aborda o processo de ocupação do campus de Manguinhos da Fiocruz.
Também entraram no ar uma nova série de resenhas de livros abordando diversos temas relacionados ao campo da História da Ciência e da Saúde. Acesse o volume de 2024 da revista e confira todos os artigos e resenhas!